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Mostrando postagens de setembro, 2019

Shimenawa e o “nó” da língua

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Um dos símbolos religiosos que mais me chama a atenção é a shimenawa . Trata-se de cordas de cânhamo ou palha de arroz entrelaçadas, usadas em locais sagrados do xintoísmo para afastar espíritos malignos. Algo próximo é visto nas crenças brasileiras, com o advento das carrancas do rio São Francisco. Entretanto, estas originalmente eram feitas apenas para servirem de mercadoria, sendo o próprio povo quem posteriormente atribuiu a elas poderes místicos, conforme apontam historiadores. A shimenawa também serve para indicar a presença de uma divindade, sendo amarrada ao redor de árvores e pedras. Como se fosse uma lâmpada de luz vermelha em sacrários católicos. Ainda no mundo cristão, o elemento do xintó recorda-me um pouco o komboskini , cordão de oração ortodoxo. Ou até mesmo o próprio rosário da fé eclesiástica. Por sorte, o Ocidente não transformou a shimenawa em algo desprovido de sentido, como faz com inúmeras palavras do Oriente e/ou científicas. Um exemplo é o zen. Aliás

Três incêndios e seus impactos

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Foi na hora do almoço, longe do centro da cidade. Era um dia quente; chamas começaram a surgir. Bombeiros foram acionados. Assim começou um incêndio no Instituto Federal do Acre, em Cruzeiro do Sul. O fogo atingiu dois pavilhões do campus , causando nefastos prejuízos. Na segunda-feira desta semana, todos os estudantes e servidores do Instituto Federal do Triângulo Mineiro campus Patos de Minas foram surpreendidos. Quase quatro meses depois do incêndio em terras acreanas (evito escrever “acrianas”), situações semelhantes pareciam começar a ocorrer em terras patenses. Também ao meio do dia, também distante do Centro, também em uma tarde de temperaturas elevadas. Também bombeiros foram acionados. E também um incêndio teve início. Contudo, teve-se maior sorte nessa segunda história; as chamas não tiveram sua gênese em ambiente fechado; muito pelo contrário: avançaram pelo Cerrado seco, impulsionadas pelos movimentos do vento. Servidores uniram-se com baldes, derramando água

Não sou tão ubíquo assim

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Ontem estive em um simpósio. Lá encontrei o Lívio, meu professor de português, que disse a mim: “Você é ubíquo!”. “Não me xingue”, brinquei pedindo, com o olhar, uma definição para o adjetivo a mim conferido. “Que está ou pode estar em toda parte ao mesmo tempo; onipresente” – este é o significado que traz o Michaelis . Ri-me e respondi que possuo, mesmo, um quê de onipresença. De onisciente tenho nada, como me recordou meu próprio professor momentos depois, mas, de fato, gosto de fazer-me presente em vários eventos. Principalmente os artísticos, os culturais e os acadêmicos. E não estou sozinho nessa “ubiquidade”. Um amigo meu, o Humberto, já comentou comigo que, sempre que saímos juntos, o Luís aparece. Concordei: realmente, se um dia eu precisasse achar o Luís com certa urgência, bastaria chamar meu amigo para irmos a algum lugar e lá ele estaria. Como era de se esperar, o referido ubíquo com nome de rei estava também no simpósio de ontem. Ouvindo o comentário de meu

Terno e outras roupas

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Recentemente, li uma nota na qual o IFTM foi acusado de violar regra nas Olimpíadas Estudantis Patenses. O instituto, segundo o informativo, seria punido com desclassificação. Mas o que me foi interessante é a norma violada, a qual é, na verdade, acerca de vestimentas. Sem obstáculos, mais curiosa ainda foi a roupa que causou tal infortúnio. Diz o comunicado: “um de seus atletas [...] estava jogando de terno em quadra”. Era uma partida de futsal. Ora, quando li, refleti por longos momentos. O que levaria alguém a chutar uma bola de indumentária formal? De que forma o ato de competir com traje do mais alto rigor poderia somar ao desempenho de um participante? Por mais que eu me esforçasse a entender a complexa situação ocorrida, tive apenas a leviana conclusão de que perdi um grande jogo. Lamentei-me profundamente por não ter comparecido à partida. O que eu estava fazendo nesse horário mesmo? Nem me recordo mais. Enfim, qualquer compromisso em que eu estivesse poderia ser muit

Subida ao inferno

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Eu estava desorientado. Caminhei, sem atravessar portões, pelo perímetro do local que, a mim, era pouco familiar. Só havia uma entrada aberta. Olhei meus arredores: não se achegavam pessoas conhecidas. Por um momento, pensei ter avistado uma amiga, mas não se passara de um vulto qualquer. Decidido, atravessei o portão, que por sua vez já se encontrava descerrado. Tudo estava deserto. Placas indicaram-me o caminho que eu deveria seguir – nelas, exibiam-se negras setas. Após um pouco andar, deparei-me com escadas – que ascendiam. Pensei, por certo, que algo sublime estaria prestes a acontecer. No fim dos degraus, jazia uma porta fechada. Alguns humanos esperavam, como eu, externamente. A porta oferecia pouca resistência ao som; eu ouvia gritos e risadas oriundas de seu outro lado. Passei a escutá-los com atenção. A maioria eram frutos de ordens: “Quando eu liberar a entrada, escondam-se!”. A porta abriu-se levemente. Saiu uma mulher de dentro. Vestia preto. Levava alguns no

Fofo sufixo

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Não me recordo quando comecei a seguir desenfreadamente páginas de animais de estimação em minhas redes sociais. Tudo começou com Abigail, uma porquinha do Instagram. Tampouco me lembro de como encontrei seu perfil. Não obstante, foi um incidente que desencadeou uma série de consequências que se manifestam até hoje. Certo dia, minha amiga Mariles enviou-me um convite para que eu seguisse um grupo de compartilhamento de mídia fofa no Facebook. Em geral, não me sinto atraído por grupos virtuais – ou presenciais. Contudo, permiti-me provar um pouco o conteúdo o qual foi a mim sugerido. Depois de eu tê-lo verificado, rapidamente me integrei ao grupo como comentarista e “reacionário”. E fui, sem notar, tornando-me dependente de fotos e vídeos de felinos, caninos, ovinos e vulpinos. Fui transformando-me em um amante de cobras e cabras, de leões e camaleões – penso que é assim que “nascem” veterinários e zoólogos. Sem empecilhos, comecei a perceber que, à medida que eu consumia

Pornografia e suas culatras

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Recentemente, Crivella publicou um vídeo nas redes sociais dizendo que mandara recolher o livro Vingadores: a cruzada das crianças na Bienal do Livro, no Rio de Janeiro. Após trinta e nove minutos, todos os exemplares da obra já se encontravam vendidos. Na internet, seu preço teve aumento de mais de seis vezes. Tal ocorrido me sugere lembrar-me de minha crônica “ Hashtags setembrinas”. “Se me dissessem algumas vezes para não fazer algo deleitoso, como apalpar freneticamente plásticos-bolha, acredito que eu teria fortes ímpetos de divertir-me com isso”, escrevi. A analogia também é válida para o fenômeno do livro censurado. Ora, a Bienal do Livro deste ano foi uma espécie de ringue. E sua grande luta foi entre censura e liberdade de expressão, como apontou a escritora Miriam Leitão para a rádio CBN. “Não é uma briga com o prefeito, mas uma luta em favor da democracia”, disse. Vários internautas julgaram que a obra censurada era pornográfica. Mas o que é “pornografia”? Des

Sus!

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Tenho uma disciplina técnica chamada Princípios de Organização do Trabalho – apelidada mui carinhosamente de “POT”. Ora, eu gostaria de deixar claro, já no primeiro parágrafo, que a palavra “organização”, em seu nome, é empregada no significado de “entidade que serve à realização de ações de interesse social, político etc.; instituição, órgão, organismo, sociedade” – definição extraída do dicionário Houaiss . Recentemente, em uma aula dessa matéria, estudei tendência – termo no sentido de “orientação comum em determinada categoria ou grupo de pessoas”, em palavras de Michaelis – e sua relação com o mercado de trabalho. Nesse viés, eu e alguns colegas meus recebemos a incumbência de aprofundar a tendência de aumento da população brasileira com mais de sessenta anos. Ora, foi-nos pedido que criássemos em ideia uma empresa atenta a tal fenômeno demográfico, e que a apresentássemos à turma. Após discutirmos, imaginamos uma academia de atividades físicas especialmente dedicada a

Moreno opinada

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Fui à escola cedo; ir-se-ia comemorar o dia da família. Meus pais não puderam comparecer – tinham seus compromissos. Sem empecilhos, cheguei feliz ao instituto em que estudo, acompanhado de minha segunda família – a qual engloba discentes, docentes e técnicos administrativos. Em verdade, a programação do evento não fora anteriormente revelada por completo; assim, eu desconhecia o todo que seria desenrolado naquele dia. Por conseguinte, confesso que minha alma estava a cultivar alguns anseios e expectativas em relação ao sábado letivo. Ademais, eu havia convidado meu professor de violino a participar do evento; mas não contava com sua presença, pois ele não manifesta grandes interesses por atividades acadêmicas – ainda que, na comemoração em questão, inexistisse muito academicismo. Lá, cumprimentei pessoas queridas – das quais eu tinha saudades, já que não as via há, aproximadamente, catorze horas. Fui abraçado por seres humanos sorridentes, acenado por familiares de cole

“Hashtags” setembrinas

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Acordei, no dia primeiro de setembro, por volta das sete horas da manhã. Como de praxe, fui conferir as notícias e as intrigas da sociedade, a valer-me de meus perfis virtuais. Ora, antes mesmo de eu tomar meu primeiro café do mês, notei que duas hashtags já fervilhavam: #setembroamarelo e #nofapseptember – sem contar a rotineira #LulaLivre , que ultimamente pulula em qualquer dia do ano.  Pois, resolvi, naquele momento, me inteirar um pouco mais acerca das duas primeiras, sazonais. Assim sendo, descobri que a campanha do Setembro Amarelo ocorre desde 2015, sendo uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A segunda campanha, por sua vez, parece-me ser mais antiga. Não obstante, fracassei ao procurar por qualquer artigo formal que a explorasse; apenas achei uns poucos textos relativos ao tema em sites desconhecidos e uma miríade de vídeos os quais não ousei averiguar. Bem,

De novo

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Há algum tempo estive manifestando interesse em amar [de novo]. Todavia, minha própria rotina esteve sendo-me contrapeso. Mas, com o passar dos dias, os compromissos foram tornando-se mais leves – passaram-se datas importantes e grandes responsabilidades. Não obstante, amar custa tempo; sentimentos consomem tempo. O dicionário Aulete define “amar” como “Sentir amor ou ternura por; ter grande afeição por”. Ora, o que é vago abre espaço para conjecturas. Gal e Marília já disseram: “Amar sozinho também é amor”. Sem empecilhos, escrevo que um dos mais profundos poemas sobre amar é de autoria de Carlos Drummond de Andrade, de título “Amar”. “Que pode uma criatura, senão entre criaturas, amar?” – assim começa o texto. Aproveito, ainda, para dizer que sua melhor interpretação é da brilhante Marília Pêra. Pois, hoje é dia de amar. Há espetáculo da cantora Lizandra esta noite. O nome? “Guia prático para amar [de novo]”. Bem, o último grande show que fui ocorreu em Brasília, da ma