Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Pensamentos sobre o ato da escrita

Imagem
  (1) Às vezes, acho que escrever é inútil. Mas confesso que nunca pensei que ler fosse inútil. “Mas, para ler, é preciso que alguém escreva”, dirá-me alguém. Discordo: é também possível ler o que não está escrito — o que é, aliás, uma das coisas mais úteis do mundo.   (2) Se não gostas de mim, podes gostar, ao menos, de meu eu lírico. Se não gostas de mim, podes gostar, ao menos, de meu narrador em primeira pessoa. É por essa possibilidade adicional de te atrair a mim que ora escrevo.   (3) Perguntam-me se escrever vale a pena. Minha resposta é: hoje em dia, não. Não se usa mais pena para escrever. Mas ainda vale o lápis, a caneta, a tecla do computador.   (4) Hoje vi um livro sobre o ato da escrita. Era um calhamaço. Não o li, pois quero aprender a escrever sozinho.   (5) Há uma canção da banda Pink Floyd em que Stephen Hawking afirma que a fala permitiu que a humanidade construísse o impossível, e que tudo o que precisamos fazer é assegurarmos que continuemos convers

Cacofatofobia

Imagem
  Enquanto estás na festa, fico em casa a ler alguma coisa para esquecer-me de ti. É em ocasiões como esta que um ser tímido aprende novas palavras. Talvez não saibas, sei que não gostas muito de ler... — ao menos, pareces não gostar mais de ler o que escrevo, já que não curtes mais nada do que publico — mas há uma palavra — dicionarizada! — para descrever a aversão ou o horror ao cacófato: cacofatofobia. Confesso que, para mim, é mais razoável ter aversão ou horror a essa palavra do que a cacófatos. Ela, em si, é um trava-língua de elevada complexidade que mal consigo dizer sem gaguejar.   Talvez não saibas — ou saibas, mas de forma incompleta — dos meus medos, das minhas fobias. Não consigo ficar muito tempo em meio a muita gente conversando, interagindo entre si. Soma a isso o meu medo de covid-19, um dos meus poucos medos que considero racionais. Por isso, não fui à festa. Preferi ficar em casa lendo alguma coisa para te esquecer. Dentre os meus medos, que não são poucos — tenh

O amor não é criativo

Imagem
  Conversando sobre cinema, uma amiga contou-me que gosta muito de assistir a filmes românticos “clichês”. Aqueles em que, por exemplo, o homem é superinsistente com uma mulher que não lhe dá muita bola, em que pessoas se apaixonam perdidamente logo após se encontrarem pela primeira vez ou em que a noiva foge do altar no último momento para viver com seu “verdadeiro amor”. Não vejo problema em clichês. Ainda mais se tratando de amor, que já é, em si, um lugar-comum.   Pedi a minha amiga que citasse um filme romântico cuja trama fosse, em alguma medida, “original”, isto é, que desviasse das repetições associadas a relacionamentos entre dois enamorados. Ela mencionou o italiano Il postino ( O carteiro e o poeta , como ficou conhecido no Brasil), um dos meus longas-metragens preferidos. De fato, à primeira vista, parece haver pouco ou nenhum clichê cinematográfico na história de amor entre os personagens Mario Ruoppolo e Beatrice Russo. Mas o filme, ele próprio, é um grande simulacro, por