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Mostrando postagens de outubro, 2020

Só a luz

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          Os barulhos do lado de fora durante a manhã às vezes me incomodam. Quando isso acontece, fecho a janela de vidro do meu quarto, e o silêncio, como um cachorro ou um filhinho ao ver a mãe fechar a porta, passa para dentro depressa, não querendo sobrar. Mas pouco tempo depois, as moscas, transeuntes aéreas da casa, trombam-se no vidro invisível da janela, que tentam atravessar sem êxito em direção à luz. À noite, a janela de vidro continua fechada. Os insetos do lado de fora, que agora é escuro, querem vir para dentro, sempre em direção à luz. Todavia, não conseguem, mas tampouco insistem, já que há muitos postes lá fora para os quais podem ir procurar a luz. Também há o aparelho de luz do vizinho, que emite luz que, na verdade, é energia elétrica, a fim de queimar qualquer mariposa, besouro ou aleluia que o encoste à procura de luz, sempre luz, não se sabe o motivo. Quando vou dormir, apago a luz do meu quarto e tudo fica escuro. Fecho a janela de vidro, e também a de meta

Aonde foram as máscaras?

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  Comecei a fazer caminhadas na rua, ao entardecer, tomando todos os devidos cuidados para a saúde, minha e coletiva. Mas, ao passo que percebo que isso está me deixando mais feliz e bem-disposto, noto também uma angústia que em mim surge. Aonde foram as máscaras? — Isso me preocupa. Avisto uma criança, um adolescente, um adulto, um idoso: todos sem máscara. Dá vontade de perguntar: “O que fizeram com sua máscara? Roubaram-na?”, mas bem sei que não a roubaram, nem fizeram nada com ela, a não ser deixá-la empoeirar em um canto da casa, ou umedecê-la com o suor do queixo, ou amarrotá-la no espaço de um bolso ou de uma bolsa. Por vezes, vejo algumas pessoas até mesmo entrarem em lojas sem máscara, sem serem por alguém advertidas. Usar esse simples objeto de proteção tornou-se, infelizmente, costume extemporâneo.     “É estranho, sem dúvida, não habitar mais a terra, parar de praticar costumes pouco aprendidos”  — escreveu Rainer Maria Rilke, e m uma de suas místicas  Elegias de Duino .  A

Autoanálise e considerações finais sobre os planos de governo

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  Não foi fácil analisar os planos de governo dos candidatos e das candidatas a prefeito(a) de Patos de Minas, mesmo os textos mais curtos. Busquei aplicar a todos o mesmo rigor avaliativo, e acredito que consegui fazer isso. Não obstante, quero lembrar a quem me lê que não fui nem sou capaz de avaliar com o mesmo conhecimento e entendimento todas as propostas: apesar de eu morar minha vida inteira no município, só tenho dezessete anos; ademais, não tenho formação técnica para avaliar certas propostas que envolvem, por exemplo, normas específicas da saúde ou da segurança — não tenho nem ensino médio completo, ainda.   A despeito disso, usei de minha experiência de patense que morou no meio rural, que estudou em um povoado (que depois virou distrito) e que atualmente estuda em uma escola pública do meio urbano, no qual vive. Também usei de meus conhecimentos políticos e interpretativos, que são básicos, mas suficientes para a finalidade em que os empreguei.     O resultado das

Análise: plano de governo de Pedro Lucas

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  Um leitor atento me sugeriu, previamente, que comparasse o plano de governo de Pedro Lucas (PDT) em 2020 ao plano de governo desse mesmo político em 2012, ano no qual ele foi eleito prefeito em Patos de Minas. Assim, utilizando o programa CopySpider , verifiquei que a similaridade entre os arquivos é de 50,69%, o que poderia ser considerado autoplágio. Ademais, a repetição de muitos itens pode significar, também, o seu não cumprimento, uma vez que mesmos objetivos continuam atuais depois de oito anos.   A despeito disso, inicio minha análise do plano deste ano comentando sobre sua organização: os eixos temáticos são divididos em quinze “políticas públicas”. Dentro de cada política pública, as propostas são divididas em segmentos específicos. Desse modo, devido ao grande número de objetivos elencados e inseridos nesses vários temas e subtemas, a fim de não deixar minha análise extensa demais, analisarei cada uma das quinze “políticas públicas”, não contemplando, necessariamente,

Análise: plano de governo de Hermano Caixeta

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  O plano de governo de Hermano Caixeta (PSB) é extenso, com 90 páginas. Por esse motivo, esta análise, assim como as outras que fiz, será objetiva, focando nas propostas elencadas pelo candidato. Dito isso, inicio este texto comentando as primeiras páginas: há uma capa completa, seguida de uma nuvem de palavras e de um sumário. Na sequência, os currículos do candidato a prefeito e de seu vice, Clécio Castro, são apresentados.   O primeiro capítulo se refere aos “princípios orientadores”, cujos valores pautados são “Cidadania, Dignidade Humana, Justiça Social e Desenvolvimento Econômico”. O segundo capítulo, por sua vez, traz os 17 objetivos da ONU para o desenvolvimento sustentável, contextualizando-os na esfera municipal. Somente no terceiro capítulo, o qual se inicia na página 35, começam a serem elencadas as propostas do plano de governo de Hermano Caixeta.   Em “Financiamento e comercialização”, são elencadas várias metas de caráter subjetivo, o que dificultaria uma análi

Análise: plano de governo de Frederico Galvão

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  O “ plano de governo ” de Frederico Galvão (PCO) tem, ao todo, 37 páginas. Uso aspas para me referir ao seu “plano” porque não se trata de um programa de governo de um possível prefeito, mas de um texto no qual o candidato defende suas convicções revolucionárias socialistas aplicadas ao cenário nacional, elencando objetivos que nem mesmo um presidente da República — muito menos um prefeito municipal — poderia alcançar sem a aprovação da Câmara e do Senado, pois seriam necessárias emendas constitucionais.   Patos de Minas não é mencionada uma vez sequer no documento, assim como qualquer um de seus distritos. As especificidades da realidade patense não são exploradas de nenhuma forma no documento. Tampouco é mencionado o nome do candidato, talvez porque nem foi ele mesmo quem escreveu o “plano”: o arquivo de Frederico Galvão é o mesmo arquivo do candidato Victor Assis, de Recife (PE), por exemplo.   Ainda assim, tentarei analisar algumas questões defendidas no texto aplicando-a

Análise: plano de governo de Falcão

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  O plano de governo de Falcão (PODE) tem, ao todo, 24 páginas. Na capa, vê-se uma imagem do candidato a prefeito ao lado de uma foto aérea de Patos de Minas, cuja autoria não é informada. Na página seguinte, há uma ilustração de pessoas com os braços erguidos, seguida da frase “Juntos nós podemos!”, fazendo alusão ao nome do partido do político. A terceira página é um sumário do plano de governo. O documento é bem organizado e esteticamente planejado.   Em sua introdução, o candidato define sua missão, sua visão e seus valores. Acerca dos últimos, chama a atenção o valor elencado “Austeridade”, uma vez que austeridade pode significar tanto formalidade e seriedade quanto inflexibilidade e severidade. Falcão deixa claro que o texto se trata de uma versão preliminar de plano de governo, e que a versão definitiva será elaborada “a partir de debates amplos, de diálogos diversos e de estudos profundos das muitas realidades da cidade de Patos de Minas”.   Em seguida, são apresentado