Análise: plano de governo de Falcão
O plano de governo de Falcão (PODE) tem, ao todo, 24 páginas. Na capa,
vê-se uma imagem do candidato a prefeito ao lado de uma foto aérea de Patos de
Minas, cuja autoria não é informada. Na página seguinte, há uma ilustração de
pessoas com os braços erguidos, seguida da frase “Juntos nós podemos!”, fazendo
alusão ao nome do partido do político. A terceira página é um sumário do plano
de governo. O documento é bem organizado e esteticamente planejado.
Em sua introdução, o candidato define sua missão, sua visão e seus
valores. Acerca dos últimos, chama a atenção o valor elencado “Austeridade”,
uma vez que austeridade pode significar tanto formalidade e seriedade quanto
inflexibilidade e severidade. Falcão deixa claro que o texto se trata de uma
versão preliminar de plano de governo, e que a versão definitiva será elaborada
“a partir de debates amplos, de diálogos diversos e de estudos profundos das
muitas realidades da cidade de Patos de Minas”.
Em seguida, são apresentados os chamados “macro-objetivos”, que são as
bases de vinte segmentos de gestão. Nada obstante, como eles são explorados
mais detalhadamente em páginas posteriores, não me aterei a eles agora.
Na sequência, o candidato anuncia a divisão de seu plano nos chamados
“eixos estratégicos” e “áreas estratégicas”. Basicamente, trata-se de uma
tentativa exitosa de dividir as propostas em temas (que seriam os “eixos
estratégicos”) e subtemas (que seriam as “áreas estratégicas”).
No tema “Gestão municipal”, subtema “Administração”, Falcão foca em
propostas que visem à transparência e à simplificação dos processos, como “Implementar
ferramentas de modo a garantir transparência total das contas municipais” e “Promover
uma ampla reforma administrativa que digitalize processos, que revise contratos
e torne a gestão mais moderna e eficiente”. Alguns objetivos, entretanto,
parecem fugir da temática administrativa, como “Promover junto ao IPREM
programas de apoio e valorização de servidores aposentados, com a oferta de
cursos, encontros e atividades físicas e de lazer.”
No subtema “Finanças”, o candidato elenca quatro itens de valor mediano,
como “Recuperar a capacidade municipal de realizar investimentos com recursos
próprios, aprimorando o planejamento dos recursos advindos de receitas geradas”
(atualmente a Prefeitura é incapaz de investir com recursos próprios?) e “Deixar
a prefeitura, ao final do mandato, com superávit financeiro” (se eleito, Falcão
já encontrará a Prefeitura com superávit financeiro).
Em sequência, no subtema “Planejamento”, chama a atenção a proposta de “Construir
o Patos 2050, um Planejamento Estratégico Municipal, a longo prazo, com
participação da comunidade, definindo metas e os caminhos que o município
precisa percorrer para atingir os objetivos enquanto cidade polo”. De fato,
falta ao município um projeto de execução que, em vez de morrer após os quatro
anos de um governo, continue orientando ações estratégicas da Prefeitura.
No abrangente subtema de “Tecnologia de Informação, Comunicação,
Inovação e Serviços”, são apresentados itens incompletos, que geram dúvidas acerca
da atuação pragmática municipal. Em “Buscar, com o apoio de instituições de
ensino superior e técnico, a criação de projetos focados em Tecnologia da
informação - TI, ampliando e favorecendo parceiras com empresas para o
desenvolvimento de novas tecnologias”, por exemplo, como atuaria efetivamente a
Prefeitura, se serão as instituições de ensino e as empresas que promoverão a
inovação? E em “Incluir o Município nos indicadores de normas técnicas
regulamentadoras para classificação como ‘Cidade Inteligente’, garantindo assim
o foco da gestão na qualidade de vida dos munícipes”, como atuaria efetivamente
a Prefeitura para transformar Patos de Minas em uma cidade inteligente, se o
município continua tão precário?
O “eixo estratégico” de gestão municipal termina sem qualquer menção ao
meio rural, e com apenas uma única referência aos distritos na “área
estratégica” da administração: “Criar o projeto de Administrador de Distritos
para acompanhamento das ações de execução de Programas e Projetos nas regiões
respectivas”. Somente o meio urbano da cidade usufruirá da gestão municipal?
Não se pode simplesmente dizer que determinadas propostas se referem a todos os
munícipes, se as realidades sociais são muito contrastantes.
No tema “Desenvolvimento social”, subtema “Saúde”, a primeira proposta,
que pode ser a mais impactante, é muito dúbia, de modo a não ser possível saber
com certeza a intenção de Falcão: “Trabalhar para suprir a falta de um Hospital
Municipal” — isso significa que um hospital municipal será construído, ou significa
que será feita uma reparação de outra forma? Sobre a saúde animal, ganham destaque
as promessas de criação do “Centro de Bem Estar Animal” e de um programa de
resgate a animais abandonados.
No subtema “Acessibilidade”, o candidato defende melhorar a
acessibilidade em calçadas, passeios, estabelecimentos públicos e escolas
municipais, a fim de promover a inclusão social — o que realmente falta ao
município.
No subtema “Assistência social”, Falcão defende, entre outros pontos, “Expandir
o restaurante popular para mais 4 pontos da cidade, sendo estes, nos bairros
Jardim Esperança, Alvorada, Sebastião Amorim e Vila Rosa” e “Criar o projeto ‘Cidade
Digital’, viabilizando a instalação de pontos Wi-Fi nos locais públicos de
convívio social, tais como praças, avenidas principais e orla da lagoa.” Ainda
que o segmento tenha várias propostas, nenhuma é destinada ao meio rural, e
apenas uma vez os distritos são mencionados: “Promover a regularização
fundiária nos Distritos e na Sede do Município com a concessão de título definitivo”
— o que torna a “área estratégica” incompleta, dada a conhecida carência dos
não citadinos em assistência social.
No subtema “Cultura, Esporte e Lazer”, várias das propostas elencadas,
mais uma vez, geram dúvidas acerca de como seria a participação efetiva da
Prefeitura para seu cumprimento: “Melhorar e estabelecer condições
indispensáveis para o setor turístico de Patos de Minas, visando o
fortalecimento do mesmo em nosso Município” (quisera saber como...), “Criar
programa focado no Natal, trabalhando a decoração da cidade, apoiando também
promoções e atividades dos comerciantes, com o objetivo de manter o espírito
natalino nas famílias e estimular as vendas, gerando emprego e renda na cidade”
(como a Prefeitura atuaria efetivamente para isso?), “Ampliar a utilização de
parte da Avenida Getúlio Vargas, para prática de esporte, cultura e lazer nos
domingos e feriados” (como seria feita essa ampliação?).
Em sequência, no subtema “Educação”, chama atenção a primeira proposta,
de “Iniciar o processo de municipalização do ensino fundamental, mediante
convênio com o Governo Estadual”: Patos de Minas tem 15 escolas municipais de
ensino fundamental e, pelo menos até o mês de julho, estava sendo feita a
análise de possível municipalização de três escolas estaduais (Professor
Modesto, Monsenhor Fleury e Cônego Getúlio) que, somadas, têm quase dois mil
estudantes. A quais escolas a proposta se refere? Fiz um levantamento, e há 21
instituições de ensino estaduais em Patos de Minas que ofertam o ensino fundamental.
Quais delas seriam municipalizadas? Também chama a atenção a promessa de “Iniciar
a implantação da educação em tempo integral, com o desenvolvimento de
atividades culturais, esportivas e de relacionamento social de forma associada
ao projeto pedagógico das escolas”: quais escolas passariam por esse processo?
Certamente, não seria possível atingir todas. A proposta de “Buscar a
viabilização de uma escola cívico militar para Patos de Minas” também gera discussões
se seria uma medida interessante, uma vez que já temos o Colégio Tiradentes da
PMMG. Além disso, “Idealizar a criação de um projeto específico de atenção à
saúde do estudante, ampliando o atendimento aos alunos da rede municipal de
ensino, mantendo uma equipe composta por psicólogo, assistente social,
dentista, enfermeiro e medico em todas as escolas” seria executável?
No tema “Desenvolvimento econômico sustentável”, subtema “Indústria e
comércio”, não há qualquer referência à sustentabilidade nas propostas. Algumas
das metas são “Redimensionar e reestruturar os Distritos Industriais”, “Incentivar
campanhas de compras no comércio local” (como seria esse incentivo?) e “Estimular
o credenciamento e contratação dos microempreendedores individuais (MEI) para
prestação de serviços à Prefeitura”.
Em seguida, no subtema “Agronegócio”, tampouco se fala de
sustentabilidade; com efeito, o objetivo de “Agilizar a concessão de licenças
ambientais aos produtores rurais” faz parecer que a preocupação ecológica não é
prioritária. Alguns dos itens elencados são “Fomentar e incentivar a produção
de bens exportáveis, mediante expansão de lavouras temporárias e perenes” e “Fomentar
um Programa de instalação de Feiras do Produtor nos bairros e distritos,
criando assim novos canais de comercialização dos produtos da agricultura
familiar e de pequenos produtores rurais.”
No subtema “Meio ambiente”, enfim, defende-se, entre outros pontos, “Promover
a coleta seletiva de lixo para toda cidade, inclusive nas comunidades rurais, e
montar parcerias com o 3º Setor e entidades privadas para reciclagem e geração
de renda” e “Efetuar uma revitalização no Córrego do Monjolo, fazendo uma
limpeza geral com a retirada da terra, vegetação depredativa e lixo urbano.”
No tema “Infraestrutura e urbanismo”, subtema “Saneamento básico”,
Falcão deseja, por exemplo, “Elevar os índices de cobertura do abastecimento de
água tratada e de coleta de esgoto para a população”, “Trabalhar pela expansão
do sistema de captação, pois hoje dependemos de um ponto apenas” e “Rediscutir
as políticas da COPASA, coordenar e fiscalizar a qualidade dos serviços
prestados e as tarifas cobradas e realizar trabalhos conjuntos para resolver a
destinação do esgoto sanitário”.
Por fim, no abrangente subtema “Infraestrutura, Mobilidade Urbana e
Segurança”, o candidato promete asfaltar vários trechos: Pilar à BR-352, a
própria BR-352, Bom Sucesso à cidade, Santa Maria à cidade, Sumaré ao Arraial
dos Afonsos, Sumaré à BR-365 e “Expandir a malha asfáltica nos bairros que
ainda possuem ruas sem esta proteção”. Ademais, Falcão se compromete a “Iniciar
processo de construção da 2ª ponte sobre o Rio Paranaíba” (quisera saber onde,
especificamente), “Melhorar as condições do Aeroporto de Patos de Minas - Pedro
Pereira dos Santos, proporcionando uma utilização contínua das empresas aéreas
de transporte de cargas e passageiros” e “Aprimorar a sinalização e
identificação visual das vias da cidade”. Na realidade, sobre a segurança
pública não relacionada ao transporte, há tão somente “Dotar todas as entradas
e saídas da cidade com câmeras de segurança de alta resolução” e “Manter a
expansão do videomonitoramento nos bairros da cidade e nos Distritos, bem como
nos prédios públicos com a parceria da Polícia Miliar / Governo do Estado de MG”
— o que torna o segmento incompleto, considerando os altos índices de violência
do município em suas regiões urbanas e rurais.
De modo geral, o plano de governo de Falcão responde a quase todas as
principais questões do município de forma organizada e obedecendo ao mínimo de paralelismo
sintático, mas com diferentes níveis de êxito nas propostas. Não obstante,
temas importantes para o debate público foram deixados de lado, como certos
movimentos culturais e movimentos ligados a minorias, além de deixar quase de
lado as especificidades do meio rural. No mais, faltou um revisor para tratar
erros de português e, sobretudo, de digitação.
Uma análise opinativa, objetiva e que reflete com precisão o plano de governo. Parabéns pelo texto! Sugestão, utilizar uma fonte (tipografia) mais leve, para facilitar a leitura. Hoje na internet, convém-se, dar preferência para o corpo do texto alinhado a esquerda, apesar de não ser regra, mas é o padrão seguido pelas principais publicações, exemplo Folha de São Paulo, Estadão, Piauí, etc.
ResponderExcluirOlá, Lélis. Muito obrigado pela leitura e pela sugestão. Ainda estou aprendendo a lidar com o Blogger, principalmente depois que ele foi reformulado. Sinta-se à vontade para fazer novas sugestões futuramente.
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