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Mostrando postagens de março, 2020

A prefeitura falhou

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A prefeitura falhou, infelizmente. Não é tempo para falhas. Estamos vivendo uma pandemia, em um país cujo número de mortes ultrapassa duas centenas, e que a contaminação já não vem mais “importada”, senão se dissemina internamente. Em Patos de Minas, há mais de cem casos suspeitos notificados. Pouco mais de 8% obtiveram resultado do exame. A demora da declaração positiva ou negativa é longa e justificada, mas não humanamente aceitável. E a prefeitura municipal, que vinha desempenhando papel louvável na proteção de seus cidadãos e servindo de exemplo para cidades vizinhas, decidiu falhar. Patos de Minas foi eficaz, e até mesmo pioneira (regionalmente), no fechamento de escolas, lojas e espaços públicos diversos. Demonstrou, antes que a ameaça se aproximasse demais, a agilidade e o profissionalismo necessários para evitar-se a contaminação em seu território. Foi transparente – ainda que muitos digam o contrário – em seus boletins epidemiológicos, que chegaram a ser emitidos mai

Desabafo solitário

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Hoje tentei escrever, algumas vezes, um poema por meio do qual eu desabafasse minha angústia de ver seres humanos pedindo a reabertura imediata do comércio. A verdade é que eles sabem (ao menos, tenho a ingenuidade de pensar que eles saibam) que o pior ainda está por vir ao Brasil. O ápice da Covid-19 não chegou aqui. E está logo aí. Como desejar, sabendo disso, que tudo volte ao normal? Sei de pessoas que estão vivendo normalmente, com os mesmos hábitos de sempre. Pergunto-me se esses cidadãos agiriam da mesma forma se o presidente deles fosse minimamente favorável a cuidados de saúde pública. Dizem que não assistem à Rede Globo por esta “fazer a mente do povo”, mas, se lhes é enviada uma imagem por WhatsApp em que está escrito, em Comic Sans, que há mais mortes por dengue no Brasil em uma semana do que por coronavírus, são capazes de crer piamente nela e reagir com emojis de palminhas. Bolsonaro é inapto a governar o país. Seria uma benção se uma junta médica atestasse

Onde ainda se possa abraçar

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No último sábado, em que se completaram dois anos de morte de Marielle Franco, participei de evento no Parque Municipal do Mocambo, em Patos de Minas, de nome “Aliança por qual Brasil?”. Integrei sua comissão organizadora e tive momento de fala. A proposta era fazer-se contrapeso à visita de Eduardo Bolsonaro ao município na véspera, sexta-feira 13, a fim de estruturar o partido Aliança pelo Brasil, e às manifestações contra instituições democráticas brasileiras, o Congresso e o STF, que ocorreriam no dia seguinte. Em forma de ato político e cultural à memória da vereadora covardemente assassinada, discutimos os reflexos de medidas nocivas do Governo em relação a importantes aspectos da sociedade: direitos humanos, população negra, educação e economia. Falei sobre educação. No âmbito local, escancarei a ausência de políticas municipais satisfatórias para assegurar o deslocamento seguro de estudantes do meio rural às suas escolas em época de chuvas; a nível regional, comentei

O dia em que fui mulher

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Já fazia muito tempo que eu não, por uns dez ou vinte minutos, pensava filosoficamente em minha infância. Fazia-o, em realidade, apenas quando ainda existiam almoços de família – em uma era semirremota – em minha família, e tão somente nessas protocolares ocasiões das quais, mesmo sendo excessivamente enfadonhas, eu participava. Nessa era semirremota, era eu um mero adolescente – como a esmagadora maioria de adolescentes com que, por cinco dias na semana – e, não raro, seis–, convivo profissionalmente na escola em que leciono. Assim são eles: a despeito de serem amantes ou inimigos declarados da História – a disciplina que leciono –, praticamente todos parecem negligenciar, ou simplesmente não conhecer, a história dos próprios jovens, que, basicamente, pode ser resumida nesta sucinta frase de Millôr Fernandes: Todo jovem pensa que acabou de inventar a juventude. Ora, é claro, também fui eu um jovem. Também fui eu um adolescente que se considerava, em maturidade, adult