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Mostrando postagens de janeiro, 2020

VELHO

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“Eu vejo o futuro repetir o passado” . O verso de Cazuza é a primeira coisa que me vem à mente quando me lembro de um recente partido político, fundado em 2011, de nome NOVO. Muitas coisas têm nomes que enganam: quem ouve falar de “mão-curta” pela primeira vez pode pensar que se trata de uma mão pequena, quando, na verdade, trata-se de um pequeno veado de corninhos, que nem mãos possui. Com o Novo, ocorre algo semelhante. Quem escuta pela primeira vez seu nome até imagina se tratar de um partido pragmático e que executa uma política jovem e inovadora. Ledo engano. Assim como o mão-curta não tem mão, o Novo não tem novidade. Quem procura inovação no Novo decepciona-se. O máximo que neste se possa achar é uma sobra de “empreendedorismo”, uma palavra grande demais para meu gosto. Não obstante, quem olha o Novo com um pouquinho de atenção, e de discernimento, enxerga o passado: vislumbra a grotesca “velha política”, particularmente executada por intermédio de elementos laranj

Os perturbadores Clarice e Alvim

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Acredito que, a princípio, não seria sensato de minha parte escrever sobre Clarice Lispector e Roberto Alvim em uma só crônica – constituir-se-ia, no mínimo, um desrespeito a Clarice. Não obstante, tentarei, maquiavelicamente, justificar a mediana comparação entre a brilhante escritora e o infeliz secretário especial da Cultura por intermédio da final conclusão que tirarei com o presente texto. Recentemente, assisti a uma entrevista que Lispector concedera ao programa Panorama, da emissora TV Cultura, no ano de sua morte, 1977. Fiquei profundamente incomodado. Suas palavras frias em voz lânguida, a cadência de suas orações voadoras que pairavam na fumaça viciosa de triviais cigarros e seu completo desinteresse em relação às perguntas que lhe tiravam o sossego eram perturbadores. Essa foi a primeira vez que escutei a voz de Clarice. Com efeito, baseando-me superficialmente em seus escritos, eu imaginara alguém com habilidade de fala invejável e poderosa capacidade de persu

Os EUA têm muitas estrelas

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Nesta semana vivi momentos de paz. Passei a manhã do domingo no campo, e, à tarde, fui à casa de meus tios em Patos de Minas, na qual me hospedei até ontem. Ali, aprendi e pratiquei culinária. Fiz arroz, feijão, carne e tererê (o VOLP registra as grafias “tererê” e “tereré”). Escrevi e li. Meditei. Assisti a bons filmes: Dois papas , Joana d’Arc (com a interpretação de Leelee Sobieski) e Minha mãe é uma peça 3 . Escutei a trilha sonora da adaptação fílmica The celestine prophecy , dirigida por Armand Mastroianni, enquanto eu simplesmente refletia sobre a vida. Simultaneamente, contudo, a realidade era outra em algum lugar além do horizonte, que, opondo-se à imaginação romântica de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, não parecia ser local “bonito pra viver em paz”. No Irã, também nominado “Irão” em feiíssimo português, a tensão e o luto eram fortes. Pensei que eu não escreveria sobre o assunto. Não obstante, o cronista é como um cantador que, descrito nos versos de Dori Caym

Os companheiros de Zezé

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“Olha a cabeleira do Zezé!/Será que ele é?/Será que ele é?” A marchinha carnavalesca de João Roberto Kelly e Roberto Faissal parece dialogar com a desconfiança de outra marcha, que também costuma zombar da juventude transviada brasileira: a militar. O presidente Jair Bolsonaro, capitão reformado, publicou recentemente, em sua conta do Twitter, comentário a respeito de uma decisão do Ministério Público Federal da Bahia, feita no meio do ano passado, que proibiu escolas militares de interferirem no corte de cabelo dos estudantes, assim como autoridades de opinarem sobre a cor das unhas dos alunos. Ora, em julho de 2019, o MPF na Bahia questionou a qualidade de ensino de colégios militarizados no estado e apresentou várias violações de direitos de crianças e adolescentes nesses ambientes, os quais vetavam as escolhas individuais e a participação dos estudantes em manifestações políticas. Descontente com a liberdade de expressão permitida com o ocorrido, Bolsonaro sug