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Mostrando postagens de abril, 2020

É tempo de mensagens

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“Hubo golpe de estado en Brasil? Por aquí los medios están diciendo eso” . Recebi esta mensagem de um contato argentino na noite do dia quatro de abril. É claro que não havia ocorrido golpe de Estado no Brasil. Ainda assim, não hesitei em investigar o caso. Li matérias jornalísticas de Argentina, México e Itália noticiando o suposto “golpe brando” que tirara “informalmente” Bolsonaro do poder. “Sigue en funciones, pero no cumplirá ninguna misión” , dizia um site estrangeiro. Quem o teria destituído fora Walter Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil. No Brasil, apenas periódicos de nível Revista Fórum e Brasil 247 descreviam a situação. Assim, respondi a meu contato, brevemente, que se tratava de mais uma fake news . Contudo, após a recente saída de Moro do Governo, reconsiderei minha posição acerca da teoria aparentemente conspiratória que circulara no estrangeiro. O ano de 2020 está marcado profundamente por descontentamentos de então aliados de Bolsonaro, que, agora, v

A crise de meia-idade do PDT

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O Partido Democrático Trabalhista está com quarenta anos e em crise de meia-idade. Nas eleições de 2018, o candidato Ciro Gomes foi um verdadeiro destaque; com boa oratória, soube ser oposição ao PT e a Bolsonaro. Experiente, com boas propostas e argumentação convincente, conquistou o apoio de grande parte da centro-esquerda. Mesmo o PDT terminando em terceiro lugar nas presidenciais, logo depois surgiu um grande fenômeno no partido: Tabata Amaral. Jovem, dinâmica, inteligente e crítica. Representou muitos não só da centro-esquerda, como também de setores mais à esquerda de suas próprias convicções. Tudo isso até chegar a tão amotinada Reforma Previdenciária do Brasil. O apoio público de Tabata em favor da reforma descontentou a maioria de seus apoiadores; ainda assim, continuou sendo inspiração para parte da centro-esquerda favorável à reforma e, depois, parte da centro-direita, popularmente chamada “Centrão”. Mas não por muito tempo: os jornais deixaram de se preocupar

Flores a Bicalho

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Bicalho nunca havia recebido flores na vida. Talvez porque nunca houvesse namorado. Mas recebeu. Ontem, em seu próprio apartamento. A namorada visitara-o trazendo-lhe flores. A princípio, Bicalho alegrou-se com o agrado, cheirou-as e agradeceu à amada. E, cuidadosamente, meteu-as em um vaso com água, de um vidro esverdeado. Mas, é claro, antes de metê-las, recebeu também a namorada, além das flores. Recebeu-a com alegrias, cheiradas etc. Jantaram, beberam etc. E a amada foi, enfim, embora. Só então Bicalho foi olhar as flores, enquanto lavava os pratos. E percebeu que as flores não eram flores quaisquer. Eram rosas. E não eram rosas quaisquer. Eram rosas amarelas. Quem diria que as primeiras flores que receberia na vida seriam amarelas! Por um momento, pôs-se a pensar que as primeiras flores que ganharia na morte seriam brancas. Mas depois se lembrou de ver flores de outras cores no velório da vovó Bicalho e, dois meses depois, no velório do tio Bicalho do meio. Por que c

Esperanças cautelosas

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Aqui, na fazenda, quase ninguém tem palpite sobre o que se fazer para solucionar a pandemia – inclusive eu. Acho isso genial: não opinar acerca do que não se sabe. Fui criado no campo, espaço em que é tradicional ensinar-se a humildade aos filhos. Nada obstante, conhecemos o que não deve ser feito. Sabemos que as idas à cidade não podem ser frequentes, e que os cultos e as missas não devem mais ser celebrados com a comunidade toda reunida. Mas acontece que o país é grande, o mundo é grande; a pequena Boa Vista é nem sequer um ponto no mapa. E, por aí, há muita gente que gosta de propor soluções não embasadas na experiência – algo que, no meio rural, costuma ser muito valorizada. Bem, o problema é que ninguém parece saber ao certo o que deve ser feito – por isso, a cautela é tão importante, como ressalta a cientista Angela Merkel. Olhar o que ocorreu em outros países deve ser interpretado como um ponto-chave. O escritor português Valter Hugo Mãe, em carta destinada aos bra

Falcão e seu bico

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Na última vez que fui a Monte Verde, em janeiro deste ano, tive momentos únicos de educação ambiental na escola de falcoaria da região. Vivenciei experiências com gaviões e corujas, que são aves muito inteligentes e encantadoras. Também vi falcões, mas apenas de relance. Estes estavam sendo reabilitados. Haviam sido entregues pela Polícia Militar aos cuidados da escola, que realiza um lindo trabalho voluntário na reabilitação de aves selvagens. Mesmo sem observá-los de perto, pude percebê-los de longe. Aprendi que, diferentemente de outros rapinantes, como gaviões e águias, que matam suas presas com as garras, os falcões usam o bico – como os predadores políticos. Ora, o fato de eu estar longe de minha cidade não me impediu de acompanhar Patos de Minas, cujas aves anatídeas são muito mais dóceis que as de rapina. Nada obstante, nos cumes de sua redondeza não são escassos os predadores e carniceiros oportunistas a fazer a ronda municipal. Até escrevi um artigo de opinião, n

Os frutos virais da incoerência administrativa

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O cientista político Sérgio Abranches já deixou claro em análise recente: uma das poucas coisas que já sabemos sobre o novo coronavírus é que quanto pior a governança, piores os impactos da pandemia. Foi o caso da Itália, da Espanha e dos EUA, que se encontravam em estado de instabilidade ou má gestão políticas logo antes dos primeiros casos surgirem. O problema é que as condições normais do Brasil são de instabilidade política e má gestão, desde alguns anos. O que mais se nota nestas terras, com efeito, é a incoerência administrativa. Basta se inteirar dos últimos comportamentos de Jair Bolsonaro para se averiguar a questão: o presidente diz que a Covid-19 é um resfriadinho, o presidente usa máscara; o presidente ameaça demitir seu ministro da saúde, o presidente prega união. Condições parecidas são observadas nas Minas Gerais: o governador defende isolamento social, o governador diz que não deve ocorrer isolamento social porque “o vírus deve viajar”; o prefeito

Quarentena faz brasileiros se interessarem por árabe

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Ontem, caí em um vídeo sobre a língua árabe no YouTube . Achei interessantíssimo: no árabe, não existem os sons “pa”, “ga” e “va”, por exemplo. Ademais, escreve-se e lê-se da direita para a esquerda. Mal acabei a videoaula e passei à próxima; desta vez, cultural: o modo de os árabes receberem suas visitas. Aprendi que, caso eu visite um árabe, devo ir de estômago vazio, e que, no fim, posso ter minha sorte lida por meio do pó sobrado em minha xícara de café. Confesso que continuei a assistir a vídeos sobre o tema, mas sempre me esquecendo de algo: ler os comentários. Ah! Foi outro ponto curioso. Havia dezenas de comentários recentes, dos últimos sete dias, em todos os vídeos a que assisti, gravados três ou quatro anos atrás. Pensei: “então, não sou o único a me interessar por árabe, nestes dias”. Ora, transcrevo alguns comentários que li: “Eu estava sem nada pra fazer na quarentena e olha aonde vim parar” , “Como se escreve coronavírus em árabe?” , “Professor, veja só, já