É tempo de mensagens



“Hubo golpe de estado en Brasil? Por aquí los medios están diciendo eso”. Recebi esta mensagem de um contato argentino na noite do dia quatro de abril. É claro que não havia ocorrido golpe de Estado no Brasil. Ainda assim, não hesitei em investigar o caso. Li matérias jornalísticas de Argentina, México e Itália noticiando o suposto “golpe brando” que tirara “informalmente” Bolsonaro do poder. “Sigue en funciones, pero no cumplirá ninguna misión”, dizia um site estrangeiro. Quem o teria destituído fora Walter Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil. No Brasil, apenas periódicos de nível Revista Fórum e Brasil 247 descreviam a situação. Assim, respondi a meu contato, brevemente, que se tratava de mais uma fake news.

Contudo, após a recente saída de Moro do Governo, reconsiderei minha posição acerca da teoria aparentemente conspiratória que circulara no estrangeiro. O ano de 2020 está marcado profundamente por descontentamentos de então aliados de Bolsonaro, que, agora, viraram seus críticos fervorosos. Atualmente, Janaina Paschoal, Joice Hasselmann, João Doria e Alexandre Frota são apenas alguns dos políticos que perderam a paciência com o presidente da República.

Bolsonaro é um paradoxo ambulante. De fato, é difícil uma pessoa não louca apoiá-lo, pois ele contradiz a si próprio. Bolsonaro não tem condições psicológicas para a governança. Diz algo e volta atrás. Defende algo e faz o oposto. Um dos exemplos mais recentes disso é a barganha de cargos com o Congresso para tentar sobreviver aos quase trinta pedidos de impeachment contra ele. A barganha de cargos e verbas orçamentárias são recursos característicos do manejo do presidencialismo de coalizão nos moldes contemporâneos, como aponta o cientista político Sérgio Abranches. Mas Bolsonaro sempre disse repudiá-la.

Muitos governantes estão ficando contra Bolsonaro. Por quê? Ignorantes não se instruíram a esta altura do campeonato; há algo por trás. E o presidente não está mais louco do que sempre foi, ainda que aparente estar. Talvez haja alguma pressão maior sobre ele. E, se isto for verdade, aí reside o problema. Não sei se Bolsonaro saiu do PSL e demitiu Mandetta e o diretor-geral da PF por vontade própria. Mas sei que não foi por pressão do partido, já que, agora, partido é algo que ele não tem.

Quem sabe, os periódicos do estrangeiro estivessem com a razão. Ou parte dela. Bolsonaro pode não estar governando, pode estar simplesmente “ali”. E pode ser que haja uma cabeça – ou um complô de cabeças – que esteja a fazê-lo. Moro deveria ajudar a esclarecer os fatos. Conseguiria eleitorado para 2022 e sairia como salvador da Pátria, de novo. Glenn Greenwald já disse que The Intercept está de “portas abertas” para publicar o que for preciso. É tempo de mensagens, de novo.

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