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Mostrando postagens de novembro, 2019

Onde esteve Wally?

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Estudei um pouco sobre hibernação nos últimos dias. É um processo biológico muito interessante. Os ursos-negros, por exemplo, hibernam de cinco a sete meses por ano. Durante esse tempo, não bebem, comem, urinam ou defecam; seus corações chegam a bater apenas nove vezes por minuto, e respiram tão somente uma vez a cada 45 segundos. Sem embargo, não são todos os ursos que hibernam. Muito pelo contrário. Espécies como urso-pardo, urso-polar, urso-panda e urso-de-óculos não passam por esse processo. Na verdade, pelo que entendi em minhas leituras, inexiste sequer um consenso entre os biólogos se, de fato, ursos-negros hibernam. Não obstante, o que vejo é que alguns seres humanos parecem hibernar. Uns, por anos a fio; outros, por meses ou semanas. Exemplos: a cantora Simone parece ter seu metabolismo musical reduzido a quase nada nos meses intermediários do ano, enquanto esse somente volta a crescer em dezembro, com a canção “Então é Natal”. A política Marina Silva, por outro

Foram as coadjuvantes

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Meu último sábado foi inspirador e artístico. Fui a Belo Horizonte a fim de participar do lançamento do livro As aventuras do tempo , da escritora Míriam Leitão, e, mais tarde, do show “Claros Breus”, da cantora Maria Bethânia. Ambas as atrações estrelavam em território mineiro. A sessão de lançamento da obra literária ocorreu no Museu dos Brinquedos, no Centro. Cheguei pontual, às quinze horas da tarde. Vi bonitas crianças brincando, cantando, dançando. Esperavam, assim como eu, algo iminente. E, assim, chegou Míriam: de vermelho, trazendo um sorriso consigo. Alguns minutos depois, descobri que uma das crianças que ali estavam era uma importante coadjuvante daquela tarde: “a pequena Mel, menina linda, de pele morena e uma vasta cabeleira preta” , como a descreve precisamente a primeira página do livro no qual a menina é protagonista. E logo vi também a “vovó Beth” : uma carismática mulher, irmã de Míriam Leitão, com quem tive a oportunidade de conversar um pouco. Mas q

Caduquice elegida

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Desconheço família que não critique a si própria. Recentemente, eu e alguns parentes começamos a apontar defeitos em nós mesmos. Minha tia perguntou-me: “Qual é o seu?”. Não precisei responder. Minha avó, que possivelmente conhece-me mais do que minha consciência, disse por mim: “Memória péssima”. Arlete, minha psicóloga, discordaria. No primeiro semestre deste ano, ela aplicou-me um teste a fim de examinar minha memória e constatou que esta é, em suas palavras, “excelente” e “precisa”. Contudo, tratou-se de memória imediata, como consta algum relatório que não me recordo onde está. Mas, voltando à ocasião informal, a conversa continuou. Meu tio lamentou-se de forma risonha: “Meus defeitos encheriam um balaio”. Minha tia não perdeu tempo em comentar: “Os do Teófilo não encheriam porque ele não saberia onde meteu o balaio”. Ora, não entendo muito de memória(s), porém, se a(s) minha(s) não me engana(m), há mais de uma. E, talvez, a mais defeituosa em mim seja a de médio

Marília livre

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Marília Pêra afirmou, em 2003, que “um dos momentos mais emocionantes de sua vida foi quando leu na imprensa uma entrevista em que Lula dizia que ela era sua atriz favorita” , como informa a matéria “Lula acalma governadores com charutos”, da Folha de São Paulo. Marília também é uma das minhas atrizes preferidas, ao lado de Fernanda Montenegro: a primeira, uma feiticeira; a segunda, uma bruxa. Por isso mesmo, as vozes de Pêra e Montenegro são mágicas: cativam quem as ouve. Não obstante, o que as distingue é um detalhe: Marília também sabia cantar prodigiosamente – e o fazia. Contudo, uma doença grave sugava-lhe a energia vocal, aos poucos. Foi vítima de um fatal câncer de pulmão, que tirou a atriz de cena aproximadamente quatro anos antes de tirá-la em definitivo da vida. Embora estivesse com o aparelho fonador fragilizado, Pêra ousou trabalhar em uma obra fonográfica: o álbum Por causa de você – o último da artista. Infelizmente, a morte veio-lhe antes de concluir as grava

A língua, Clarice e eu

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Hoje, quatro de novembro, é o dia nacional da língua portuguesa. E, certamente, uma das maiores declarações de amor ao nosso idioma foi feita por Clarice Lispector: “Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português” . A declaração é ainda mais grandiosa por mencionar uma terceira personagem, detentora de notável beleza, mas que não consegue superar os encantos e deleites da relação irresistível entre a autora e seus vocábulos cotidianos. Clarice foi uma amante da nossa língua. E, hoje, é esta que tem a escritora como um de seus mais importantes nomes. “Sou brasileira naturalizada, quando, por questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor”. O processo d

Meio galo na veia

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“Cacófato” ou “cacófaton”, segundo o Grande Dicionário Houaiss , quer dizer “som feio, desagradável, impróprio ou com sentido equívoco, produzido pela união dos sons de duas ou mais palavras vizinhas”. A definição faz-me lembrar de música: pressionar duas teclas limítrofes de um piano é produzir desarmonia. Assim sendo, pode ser um bom passatempo analisar algumas orações. Na primeira estrofe do hino do Atlético Mineiro, por exemplo, são encontradas duas meninas homônimas, chamadas Ana Vitória: “Nós somos do Clube Atlético Mineiro/Jogamos com muita raça e amor/Vibramos com alegria nas vitórias” . E, no refrão do São Paulinho, o particípio feminino do verbo “mamar” e o gerúndio do verbo “ver”, em uma ligeira declamação: “Oh, Tricolor/Clube bem amado/As tuas glórias/Vêm do passado” . Não obstante, os cacófatos acima expostos são sempre despercebidos, o que significa que não interferem negativamente na torcida dos times. Ainda bem. Sem obstáculos, convido o leitor a ter mais at