Marília livre

Marília
Pêra afirmou, em 2003, que “um dos
momentos mais emocionantes de sua vida foi quando leu na imprensa uma
entrevista em que Lula dizia que ela era sua atriz favorita”, como informa
a matéria “Lula acalma governadores com charutos”, da Folha de São Paulo. Marília
também é uma das minhas atrizes preferidas, ao lado de Fernanda Montenegro: a
primeira, uma feiticeira; a segunda, uma bruxa.
Por
isso mesmo, as vozes de Pêra e Montenegro são mágicas: cativam quem as ouve.
Não obstante, o que as distingue é um detalhe: Marília também sabia cantar
prodigiosamente – e o fazia. Contudo, uma doença grave sugava-lhe a energia
vocal, aos poucos. Foi vítima de um fatal câncer de pulmão, que tirou a atriz
de cena aproximadamente quatro anos antes de tirá-la em definitivo da vida.
Embora
estivesse com o aparelho fonador fragilizado, Pêra ousou trabalhar em uma obra
fonográfica: o álbum Por causa de você
– o último da artista.
Infelizmente, a morte veio-lhe antes de concluir as gravações musicais.
Todavia,
com a ajuda e vozes de familiares e amigos, as faixas foram completadas
postumamente, de modo que, no primeiro dia deste mês, o disco foi posto à venda,
anunciando a todos: “Marília vive”. Foi motivo de grande celebração para os
admiradores da atriz, em que românticos versos, antes retidos, fizeram-se
livres.
E,
em novembro, Lula também foi liberto. Acompanhei tudo de maneira silenciosa,
nada publicando criticamente ou favoravelmente a seu respeito, senão contendo
alguma doçura e melancolia – coisas que Pêra sabia viver e representar muito
bem, e que certamente as deixaria de lado nesta hora, dando espaço à esperança
e à alegria evidentes.
Se
Marília ainda estivesse viva, talvez dedicasse a música “Por causa de você”, a
qual leva o mesmo nome do álbum, a Lula – e, assim, cantaria os versos “A nossa casa, querido, já estava
acostumada/aguardando você./As flores na janela sorriam, cantavam./Olhe, meu
bem, nunca mais nos deixe, por favor./Somos a vida e o sonho, nós somos o amor”
ao ex-presidente, que lhe retribuiria, carismaticamente, com um abraço
fraterno.
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