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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Com que roupa?

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A dúvida que me está a incomodar hoje é a mesma que incomodou Noel Rosa anos atrás: com que roupa eu vou? Certamente, se eu fosse passar o Ano-Novo em outro país, não teria esse problema. Isso porque em muitos lugares não há essa tradição, ou invenção, de se usar determinada cor para simbolizar os desejos para o ano vindouro, como existe no Brasil. Assim, “amarelo” foi a primeira cor que me veio à mente para vestir-me para a iminente ocasião. Contudo, estou na casa de meus pais, na fazenda, o que significa que o número de peças que tenho à minha disposição é limitado. Por esse motivo, verifiquei que seria impossível combinar decência e amarelidez. Dessa forma, fui obrigado a pensar em outra possibilidade estética. Há quem critique muito esse costume. Não sou uma dessas pessoas. Pois, se acredito em signos, como posso afirmar que cores não têm seus significados próprios? Claro, refiro-me a signos linguísticos. Van Leeuwen , em sua obra The language of colour , aponta que

Neoliberais não vão à rua

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Eu estava na Argentina quando Alberto Fernández e Cristina Kirchner tomaram posse como, respectivamente, presidente e vice-presidenta da República (mais tarde, Cristina deixou claro, em diálogo com um senador, que prefere “presidenta” a “presidente” ao ser referida). Era uma terça-feira ensolarada em Resistencia, capital do Chaco. Nesse mesmo dia, também assumiam o governador da província e o prefeito da cidade. Meu “pai” argentino, o cantor e compositor Seba Ibarra, que me acolheu em sua casa durante o período de minha estada, convidou-me para participar de um ato público no Parque de la Democracia , um dos mais lindos parques aos quais já fui, no qual ele ia cantar. Ora, parte de minha missão na Argentina era, com toda a responsabilidade e honra que exigia a tarefa, representar meu país e, sobretudo, minha instituição de ensino brasileira, o IFTM, em território estrangeiro. Parti de Minas Gerais trajando um uniforme verde no qual se incluíam, estampadas, as bandeiras das

O político ciclo da água

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  Aprendi o ciclo natural da água enquanto eu morava no campo. Os professores de minha escola sentiam-se no dever de ensinar a todas as crianças tão essencial lição da natureza: como a água passa da superfície à atmosfera, da atmosfera ao subterrâneo, do subterrâneo à superfície. Foi somente mais tarde, quando eu já era adolescente, que entendi que, em seu ciclo, a água também atravessa dimensões políticas. Foi somente depois de certa idade que descobri que muitas pessoas sentem sede e as autoridades que as representam nada fazem para socorrê-las. E foi somente após alguma experiência que compreendi que oferecer um gole de água potável a um desabrigado não é um ato vão. Mas demorou ainda um pouco mais para que eu observasse que o âmbito político da água não ocorre apenas quando esta está em seu estado líquido, senão também em suas formas sólida e de vapor. Li em livros e notícias que o gelo dos polos da Terra estava derretendo. Vi fotografias de satélite de “antes e

Resistencia, sem acento

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Estou na província do Chaco, na Argentina. Cheguei ontem, após uma longa viagem que, em realidade, teve início em minha cidade natal, Patos de Minas. Tomei um voo para Buenos Aires, desde Uberlândia, com conexão em Guarulhos. A verdade é que eu não sabia quantificar a distância que separava as capitais argentina e chaqueña . Somente o soube poucos dias antes de vir e, quando tive consciência de que seriam quase mil quilômetros a serem percorridos de ônibus, pensei que o percurso exigiria de mim uma inegável resistência psicológica, e, sobretudo, física. Mas equivoquei-me – por sorte. A viagem foi muito cômoda. Partindo do terminal rodoviário portenho, saí ao fim da tarde, por volta das 19h15 – aqui o período vespertino é maior. No segundo piso do luxuoso veículo, acomodei-me em uma confortável poltrona. Assisti a Aladdin , que há muito tempo desejava ver. Servi-me com generosa alimentação e dormi por quase todo o trajeto. Cheguei a Resistencia de manhã, a cidade das escultura