Resistencia, sem acento
Estou na província do Chaco, na
Argentina. Cheguei ontem, após uma longa viagem que, em realidade, teve início
em minha cidade natal, Patos de Minas. Tomei um voo para Buenos Aires, desde
Uberlândia, com conexão em Guarulhos. A verdade é que eu não sabia quantificar
a distância que separava as capitais argentina e chaqueña. Somente o soube poucos dias antes de vir e, quando tive
consciência de que seriam quase mil quilômetros a serem percorridos de ônibus,
pensei que o percurso exigiria de mim uma inegável resistência psicológica, e,
sobretudo, física.
Mas equivoquei-me – por sorte. A viagem
foi muito cômoda. Partindo do terminal rodoviário portenho, saí ao fim da tarde,
por volta das 19h15 – aqui o período vespertino é maior. No segundo piso do luxuoso
veículo, acomodei-me em uma confortável poltrona. Assisti a Aladdin, que há muito tempo desejava
ver. Servi-me com generosa alimentação e dormi por quase todo o trajeto.
Cheguei a Resistencia de manhã, a cidade das esculturas.
O nome do município não é fortuito, senão
histórico. De acordo com a teoria etimológica mais difundida, frente às terríveis
invasões dos colonizadores na região em épocas passadas, os aborígenes somavam forças sem hesitar,
formando resistência ao que lhes ameaçava tirar seus direitos.
Sem embargo, vejo que talvez eu esteja
a encontrar aqui, neste lugar em que a pobreza está expressa em grandes
números, o que falta aos povos de muitas terras brasileiras ameaçadas por
autoridades: a capacidade e, principalmente, a vontade de resistir àqueles que
os reprimem. Já em meu primeiro dia tive contato com um representante indígena
local. Infelizmente, percebo que vários sindicatos do Brasil quase nada fazem
de resistência simplesmente porque lhes falta quem queira somar à luta. Uma
lástima.
Não obstante, aproveito que estou escrevendo
sobre este tema para informar que a canção “Rainha da balbúrdia”, da
maravilhosa cantora nordestina Daniela Mercury, ganhou mui recentemente versão
em videoclipe. Seguem alguns versos: “O
meu canto é de fé em nós/Minha força é a nossa voz/É a resistência, arte é
resistência”. Recomendo assisti-lo. No
más.
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