Os companheiros de Zezé



“Olha a cabeleira do Zezé!/Será que ele é?/Será que ele é?”

A marchinha carnavalesca de João Roberto Kelly e Roberto Faissal parece dialogar com a desconfiança de outra marcha, que também costuma zombar da juventude transviada brasileira: a militar.

O presidente Jair Bolsonaro, capitão reformado, publicou recentemente, em sua conta do Twitter, comentário a respeito de uma decisão do Ministério Público Federal da Bahia, feita no meio do ano passado, que proibiu escolas militares de interferirem no corte de cabelo dos estudantes, assim como autoridades de opinarem sobre a cor das unhas dos alunos.

Ora, em julho de 2019, o MPF na Bahia questionou a qualidade de ensino de colégios militarizados no estado e apresentou várias violações de direitos de crianças e adolescentes nesses ambientes, os quais vetavam as escolhas individuais e a participação dos estudantes em manifestações políticas.

Descontente com a liberdade de expressão permitida com o ocorrido, Bolsonaro sugeriu que “a Escola, qualquer pai, mãe, aluno ou interessado da comunidade” recorra à PGR para cassar a recomendação do MPF. O presidente, claro, dispensou qualquer argumentação lógica para defender seu ponto de vista.

Eu gostaria de pensar que Bolsonaro teme a piolhos, ou a caspas, mas bem sei que isso não vem ao caso: é evidente que seu temor é a estudantes fora do padrão, os chamados “idiotas úteis”, em seu vocabulário pessoal. Temor a jovens que se informam, que leem, que pensam. Temor a jovens que escrevem.

É uma pena que sejamos alvo de quem nos deveria representar. Felizmente, nós, os companheiros de Zezé, temos “coração de estudante”, como diriam Milton Nascimento e Wagner Tiso. E, assim, não nos calamos nem quando nossas bocas são fechadas. Qualquer professor deveria saber isso.

Termino meu texto com uma estrofe da música “Cabelos e unhas”, de Paulo Corrêa e Breno Góes: “Cabelos e unhas, parece,/eu li num lugar qualquer,/que tenazes ainda crescem/depois que a gente não estiver./Pode não significar nada,/mas encanta a quem supunha/que não há forma acabada/pra quem tem cabelos e unhas.”

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