A prefeitura falhou



A prefeitura falhou, infelizmente. Não é tempo para falhas. Estamos vivendo uma pandemia, em um país cujo número de mortes ultrapassa duas centenas, e que a contaminação já não vem mais “importada”, senão se dissemina internamente. Em Patos de Minas, há mais de cem casos suspeitos notificados. Pouco mais de 8% obtiveram resultado do exame. A demora da declaração positiva ou negativa é longa e justificada, mas não humanamente aceitável. E a prefeitura municipal, que vinha desempenhando papel louvável na proteção de seus cidadãos e servindo de exemplo para cidades vizinhas, decidiu falhar.

Patos de Minas foi eficaz, e até mesmo pioneira (regionalmente), no fechamento de escolas, lojas e espaços públicos diversos. Demonstrou, antes que a ameaça se aproximasse demais, a agilidade e o profissionalismo necessários para evitar-se a contaminação em seu território. Foi transparente – ainda que muitos digam o contrário – em seus boletins epidemiológicos, que chegaram a ser emitidos mais de uma vez por dia.

E foi por meio de decretos que tudo isso se efetivou. Publicado no dia vinte de março, o primeiro deles proibiu atividades físicas coletivas, limitou velórios, suspendeu o funcionamento da biblioteca municipal e quaisquer eventos com mais de dez pessoas. O comércio, por sua vez, não tardou em ser fechado.

Hoje, contudo, o novo decreto foi um erro. A prefeitura cedeu aos apelos dos comerciantes, dos empresários, do capital. A saúde dos patenses foi duramente atacada pela concessão de direitos aos “empreendedores”, que, não raro, estragam tudo. Em live, o prefeito deixou claro que as determinações retificadoras de hoje foram tão exclusivamente para atender a um pedido conjunto de sindicatos de visão puramente econômica, que se alheia às consequências de uma (im)possível abertura comercial.

Em suma, o prefeito quase pediu perdão por não poder emitir decreto que ultrapasse o que o estado de Minas Gerais já havia determinado acerca da proteção da vida dos mineiros. O político esforçou-se em flexibilizar a lei o máximo possível, sem levar em conta as consequências nefastas – e já empiricamente comprovadas, em outras regiões do mundo – de leis indiferentes à necessidade de isolamento.

As postagens que figuram a conta da prefeitura municipal no Instagram têm seus números de casos suspeitos da Covid-19 crescendo, dia após dia. No título das imagens, pode-se ler: “Coronavírus ao combate”. Quando o li pela primeira vez, humildemente apontei sugestão, por meio de breve comentário: “‘Combate ao coronavírus’ soaria melhor.” Não penso mais assim. Agora, a segunda opção soaria, no mínimo, hipócrita. Retifico-me.

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