Só a luz
Os barulhos do lado de fora durante a manhã às vezes me incomodam. Quando isso acontece, fecho a janela de vidro do meu quarto, e o silêncio, como um cachorro ou um filhinho ao ver a mãe fechar a porta, passa para dentro depressa, não querendo sobrar. Mas pouco tempo depois, as moscas, transeuntes aéreas da casa, trombam-se no vidro invisível da janela, que tentam atravessar sem êxito em direção à luz.
À noite, a janela de vidro continua fechada. Os insetos do lado de fora, que agora é escuro, querem vir para dentro, sempre em direção à luz. Todavia, não conseguem, mas tampouco insistem, já que há muitos postes lá fora para os quais podem ir procurar a luz. Também há o aparelho de luz do vizinho, que emite luz que, na verdade, é energia elétrica, a fim de queimar qualquer mariposa, besouro ou aleluia que o encoste à procura de luz, sempre luz, não se sabe o motivo.
Quando vou dormir, apago a luz do meu quarto e tudo fica escuro. Fecho a janela de vidro, e também a de metal. O barulho de fora não chega, nem adentram os insetos que gostam de luz. Porém, novos insetos surgem com seus barulhos próprios: os mosquitos. Os mosquitos parecem não gostar de luz, ou não se importar com a falta dela. Eles gostam mesmo é de mim, não se sabe o motivo. Mas não gosto deles e sei o motivo: eles me atravessam, como se eu fosse uma janela aberta, e, nesse sentido, não há vidro que me possa salvar.
Li
em algum informativo qualquer que ambiente arejado afasta insetos, só que
quartos arejados implicam janelas abertas, inclusive as de vidro. Certo dia,
abri a janela. Mas achei muito barulhento. Pulei a janela, ficando do lado de
fora. Senti-me uma mosca exitosa. Mas fora também havia barulho. Quem foge do
barulho costuma encontrá-lo. Da próxima vez, tentarei apenas buscar a luz, só a
luz, como um inseto. Quem foge da luz não costuma encontrá-la, e a luz é
superior ao som. Só quero luz, sempre luz, não sei o motivo.
Sendo assim, que haja luz.
ResponderExcluirQue haja luz, Lívio.
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