Análise: plano de governo de Pedro Lucas
Um leitor atento me sugeriu, previamente, que comparasse o plano de governo de Pedro Lucas (PDT) em 2020 ao plano de governo desse mesmo político em
2012, ano no qual ele foi eleito prefeito em Patos de Minas. Assim, utilizando
o programa CopySpider, verifiquei que
a similaridade entre os arquivos é de 50,69%, o que poderia ser considerado
autoplágio. Ademais, a repetição de muitos itens pode significar, também, o seu
não cumprimento, uma vez que mesmos objetivos continuam atuais depois de oito
anos.
A despeito disso, inicio minha análise do plano deste ano comentando
sobre sua organização: os eixos temáticos são divididos em quinze “políticas
públicas”. Dentro de cada política pública, as propostas são divididas em
segmentos específicos. Desse modo, devido ao grande número de objetivos elencados e
inseridos nesses vários temas e subtemas, a fim de não deixar minha análise
extensa demais, analisarei cada uma das quinze “políticas públicas”, não
contemplando, necessariamente, cada um dos seus respectivos subtemas.
Na chamada “Política pública de desenvolvimento econômico”, Pedro Lucas
defende, entre outros pontos, “Buscar parceria com o governo federal, visando
obter recursos financeiros destinados ao término do asfaltamento da Estrada do
Sumaré, bem como: pavimentar a Estrada que liga Patos de Minas (sede) ao
distrito de Alagoas, e a BR 365 à Comunidade de Vieiras”, “Trabalhar pelo
termino da implantação do Distrito Indústrial III, bem como, expandir sua área
atual, visando atender a demanda existente” e “Criar frentes de trabalho a
serem custeadas com recursos financeiros oriundos do Fundo de Amparo do
Trabalhador – FAT, do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, entre
outros, podendo as pessoas desempregadas serem contratadas temporariamente em
serviços públicos como construção de obras, casas populares, saneamento e
limpeza pública”. Nesse segmento, o candidato tem bom êxito nas propostas, não
prometendo coisas de execução improvável.
Em sua “Política pública do desenvolvimento social”, Pedro Lucas deseja,
por exemplo, “Apoiar financeiramente a Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP)
mantenedora do Lar Vicentino Padre Alaor [...], visando o término da construção
do novo asilo da instituição” — que é uma proposta excelente, pois o Lar
Vicentino, o qual cuida de tantos idosos patenses, passa por uma série de
dificuldades financeiras. Também são elencados os bons objetivos de “Concluir a
adaptação de toda a frota de veículos do transporte coletivo mrbano Municipal
para atender às pessoas com deficiências” e “Instituir a Fundação Municipal de
Promoção da Criança e do Adolescente - Fundação Promam, [...] dentro dos
núcleos de prestação de serviços, especialmente no PROGRAMA VIVA CRISTAVO, [...]
inclusive novos núcleos de atendimento em outras regiões da cidade, extensivo a
zona rural”. Não obstante, algumas metas deixam dúvidas, como “Implementar
programa específico para apoio e acolhimento das mulheres grávidas, inclusive
com a doação de KIT enxoval para bebê, em parceria com entidades assistenciais”
(quais gestantes poderiam receber o kit? todas? haveria seleção?).
Em sequência, na abrangente “Política pública de agricultura, pecuária,
desenvolvimento sustentável e meio ambiente”, algumas promessas são “Implantar
gradativamente a coleta seletiva do lixo urbano” e “Lutar pela urbanização da
Lagoa do Patão, tornando-a ponto de lazer, esporte e turismo, e recuperando o
meio ambiente, em parceria com os governos federal e estadual, e participação
da iniciativa privada”. Sem embargo, algumas propostas parecem estar no lugar
errado: “Apoiar os projetos de piscicultura” e “Atuar no sentido de melhorar o
rebanho, através da inseminação artificial de bovinos”, por exemplo, figuram no
subtema “Agricultura” — enquanto outras estão repetidas (“Manter com qualidade,
eficiência e pontualidade, a coleta do lixo urbano” é elencada duas vezes).
Em sua “Política pública de saúde”, o candidato defende, entre outras
metas, “Iniciar projetos de estudo de viabilidade técnica para a implantação de
um hospital municipal com definição de seu papel assistencial no Sistema Único
de Saúde, visando conferir maior resolutividade às suas ações” (ou seja, Pedro
Lucas não tem ainda uma posição definitiva sobre o hospital municipal) e “Criar
uma ‘bolsa parcial universitária’ para os alunos dos últimos anos de conclusão
dos cursos superiores da área da saúde que queiram e tenham disponibilidade
para atuar junto a atenção básica realizando encontros técnicos, ministrando
palestras e cursos, desenvolvendo pesquisas de cunho educativo, entre outros”.
Ainda assim, as numerosas propostas desse segmento não são, necessariamente, acompanhadas
de inovação: pelo menos 33 itens começam com o verbo “Manter”.
Na “Política pública de planejamento e orçamento”, chama a atenção a
meta de “Construir obra de arte (ponte) sobre o Rio Paranaíba em parceria com a
iniciativa privada, criando novas condições de acesso da população e
incentivando o crescimento habitacional, comercial, industrial e de serviços” (a
ponte será considerada uma obra de arte? e em que ponto será construída?). Nada
obstante, muitos objetivos desse setor não passam do ordinário ou do subjetivo,
como “Tomar as decisões corretas nas grandes realizações em prol do
desenvolvimento do Município”, “Respeitar as decisões a serem tomadas pelos
Poderes Legislativo e Judiciário” e “Cumprir fielmente a Legislação Municipal,
Estadual e Federal vigente”.
Na chamada “Política pública de administração”, mais uma vez, grande parte
dos itens não passa do senso comum ou da subjetividade, como “Desenvolver ações
voltadas para o aumento da produtividade e melhoria da qualidade dos serviços
desenvolvidos, especialmente para o atendimento público” e “Respeitar e cumprir
a legislação em vigor, no que se refere á jornada de trabalho (carga horária)
dos servidores públicos municipais”. Fora isso, Pedro Lucas defende “Implantar
o Plano de Carreira dos Servidores, buscando atender às reivindicações legais
dos mesmos” — o que, de fato, é muito necessário.
Em seguida, na “Política pública de educação”, o candidato promete “Construir
o Centro Municipal de Educação Infantil no Bairro São José Operário, bem como
no imóvel localizado na Av. Arlindo Porto para atender a demanda dos Bairros
Vila Rosa, Santa Luzia, Cristo Redentor e Jardim Paulistano”, “Implantar,
progressivamente, laboratórios de informática em escolas municipais”, “Ampliar
o acervo das bibliotecas das escolas municipais”, “Apoiar e incentivar a
formação de Grêmio Estudantil como espaço de participação e exercício da
cidadania” e “Interceder junto ao Governo Federal, para a liberação de recursos
financeiros visando a conclusão da construção do Campus Universitário da UFU em
Patos de Minas”, entre outros pontos. Dessa forma, Pedro Lucas tem um bom desempenho
de metas nesse segmento, contemplando todos os níveis da educação presentes no
município, e elencando objetivos específicos para a “Educação de jovens e
adultos” e para a “Educação especial”.
Em “Política pública rural (distritos, povoados e comunidades rurais)”,
o candidato explica: “O Meio Rural é contemplado em toda Política Pública do
Plano de Governo da COLIGAÇÃO ‘HONESTIDADE, TRABALHO E SOLIDÁRIEDADE’, porém,
se fez questão de destacar essa página de propostas em separado”. Com efeito, a
realidade além da sede de Patos de Minas está bem abordada no documento. Nessa “política
pública” própria, todavia, há mais a reafirmação de metas que já estão
espalhadas em outros segmentos.
Na “Política pública de cultura, esporte, lazer e turismo”, chamam a
atenção as propostas de “Implantar o projeto ‘Bolsa Literária’, de incentivo à
publicação de livros de autores patenses”, “Realização de concurso anual de
musica, textos e desenhos entre outros, em parceria com a iniciativa privada, a
ser intitulado- SEMANA DA ARTE” e “Implementar o sistema de consultas on-line
do acervo da biblioteca municipal”. Trata-se de um forte segmento do plano de
governo de Pedro Lucas.
Acerca da “Política pública de segurança e defesa da ordem jurídica”, alguns
dos principais objetivos são “Instituir a Guarda Municipal, como força auxiliar
destinada à proteção de seus bens, serviços e instalações”, “Ampliar o Projeto
de Vídeo Monitoramento (Projeto Olho Vivo) nos principais logradouros e pontos
comerciais da cidade, como forma de prevenção da criminalidade” e “Fazer
gestões junto ao Governo Federal para a instalação de uma Delegacia de Polícia
Federal em Patos de Minas, considerando a existência no Município da Justiça
Federal e do Ministério Público Federal”.
A próxima seção, intitulada “Política pública de proteção e defesa do
consumidor”, só tem duas propostas, o que faz pensar se estas mereceriam ganhar
um eixo próprio. São elas: “Reestruturar o PROCON, adequando-o com recursos
humanos e equipamentos, visando a agilidade no atendimento e solução do
problema do cidadão em parceria com a iniciativa privada e Ministério Público,
especialmente na desburocratização e padronização do processo” e “Desenvolver
ações que visam a defesa dos direitos do consumidor e pleno cumprimento do
Código de Defesa do Consumidor, especialmente com a distribuição de cartilhas
aos cidadãos e palestras na rede de ensino.”
Na sequência, na “Política pública de serviços e obras públicas”, ganham
destaque as promessas de “Construir novo cemitério municipal em parceria
público-privada, bem como melhorar as condições do Cemitério Municipal de Santa
Cruz e dos cemitérios localizados na zona rural”, “Estimular a construção de
passeios públicos em parceria com a população, bem como, criar programa de
incentivo para melhor utilização destes” e “Criar programa de pavimentação, nas
vias públicas dos Distritos e Povoados”.
Na “Política pública de trânsito, transporte e
mobilidade”, várias propostas geram dúvidas: “Descentralizar a compra de
cartões/passes [da Pássaro Branco], criando novos pontos de venda” (a compra
não é centralizada; a criação de novos pontos não é decisão particular da
empresa?), “Oferecer à população, um transporte eficiente, com confiabilidade,
segurança e conforto” (quisera saber como) e “Garantir linhas de ônibus visando
atender todos os bairros e a regularidade nos horários, melhorando inclusive,
nos feriados e fins de semana” (a Prefeitura pode promover isso, mas como
garantir, se as linhas de ônibus são de uma empresa privada?). Desse modo, o
segmento é bastante problemático.
Na “Política pública de comunicação social”, os quatro
objetivos apresentados são muito ordinários, tornando o eixo fraco: “Coordenar
o planejamento e a formulação de políticas setoriais e a avaliação e controle
dos programas na área de comunicações”, “Aproximar a população da gestão
pública municipal, através da informação e da criação de canais de comunicação
com a comunidade, buscando os meios de comunicação disponíveis no Município”, “Estimular
a sociedade a participar do debate e definição de políticas públicas essenciais
para o desenvolvimento do Município” e “Manter o Diário Oficial do Município
como órgão oficial”.
Por fim, na chamada “Política pública de controle
interno – controladoria”, o candidato apresenta apenas três itens, que podem
ser resumidos a “Comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à
eficácia da gestão orçamentária, financeira, operacional e patrimonial nos
órgãos e entidades da Administração direta e indireta, bem como, da aplicação
de recursos públicos por entidades de direito privado”, “Avaliar os controles
internos administrativos” e “Auxiliar na criação de normas para implantação de
rotinas de trabalho e procedimentos nos diversos órgãos da Administração Direta
e Indireta”.
De forma geral, o plano de governo de Pedro Lucas
responde a quase todas as principais questões do município, mas de forma pouco
objetiva: há muitas propostas parecidas ao longo dos segmentos, e de valor
subjetivo. A semelhança com o plano de 2012 do candidato também deve ser considerada,
como prova de que propostas executáveis podem se tornar inviáveis, caso seja
elencado um número muito grande delas. No mais, um revisor gramatical deveria
ter sido contratado com urgência, pois há inúmeros erros de português e de
digitação no documento.
Informo aos leitores que esse é o último plano de governo dos candidatos a prefeito que analiso. Publicarei, ainda, uma autoanálise geral do trabalho que fiz, bem como apresentarei instrumentos que poderão ajudar os eleitores que ainda se encontrem indecisos entre dois ou mais candidatos.
Comentários
Postar um comentário