Autoanálise e considerações finais sobre os planos de governo

 


Não foi fácil analisar os planos de governo dos candidatos e das candidatas a prefeito(a) de Patos de Minas, mesmo os textos mais curtos. Busquei aplicar a todos o mesmo rigor avaliativo, e acredito que consegui fazer isso. Não obstante, quero lembrar a quem me lê que não fui nem sou capaz de avaliar com o mesmo conhecimento e entendimento todas as propostas: apesar de eu morar minha vida inteira no município, só tenho dezessete anos; ademais, não tenho formação técnica para avaliar certas propostas que envolvem, por exemplo, normas específicas da saúde ou da segurança — não tenho nem ensino médio completo, ainda.

 

A despeito disso, usei de minha experiência de patense que morou no meio rural, que estudou em um povoado (que depois virou distrito) e que atualmente estuda em uma escola pública do meio urbano, no qual vive. Também usei de meus conhecimentos políticos e interpretativos, que são básicos, mas suficientes para a finalidade em que os empreguei. 

 

O resultado das análises foi dado pelos próprios leitores e leitoras que, por meio de comentários públicos e particulares, deram-me o retorno de meus textos, com sugestões de coisas a serem melhoradas, com observações de detalhes por mim esquecidos e com, até mesmo, agradecimentos. De fato, foi-me gratificante esse trabalho de comentar os planos de governo de quem pode nos impactar diretamente nos próximos anos.

 

A função de um plano de governo para um candidato ou uma candidata é dar conhecimento ao público de seus compromissos, é mostrar ao eleitorado o que se defende. Para um eleitor ou uma eleitora, os distintos planos de governo servem para conhecer, avaliar e comparar os candidatos em vários aspectos: ideias para o município (se são boas ou não, se são suficientes ou não, se são factíveis ou não), entendimento de gestão pública municipal (se é dito coerentemente ou não como executar as ideias elencadas), conhecimento do município (se são nomeadas e contempladas várias localidades ou se estas são apenas tratadas de forma genérica, se há ou não propostas de criar coisas que já existem), esmero com o próprio trabalho (se o texto é organizado ou não, se é revisado ou não, se é completo ou não).

 

Com efeito, são muitos os aspectos que são postos à prova nos planos de governo. Porém, não são todos os pontos necessários para uma tomada de decisão completa: falta conhecer, avaliar e comparar a vida dos candidatos, seu histórico. O que o candidato ou a candidata já fez pelo nosso município chamado “Patos de Minas”, e não “Belo Horizonte”, “Brasília” ou “Rio de Janeiro”? Qual é a experiência do candidato ou da candidata em gestão, preferencialmente pública? (Afinal, não procuramos propriamente um médico, um professor, um pintor, um mecânico ou um cozinheiro, mas alguém para ocupar o cargo máximo do Executivo patense.)

 

Também é necessário considerar a natureza política do(a) candidato(a), pois ele ou ela são pessoas políticas. A que partido pertencem? Como o candidato ou a candidata diz que irá se relacionar com os prefeitos dos municípios vizinhos? E como é a sua relação com os governos estadual e federal? É válido lembrar que bons líderes, como Angela Merkel, buscam sempre posições de diálogo, mesmo com opositores e com políticos divergentes. Sobretudo na esfera municipal, é sempre necessário diálogo, pois se fazem necessárias verbas “de cima” e apoios “de lado”.

 

Nesse sentido, entrevistas e debates bem conduzidos ajudam a responder a essas questões principais. Igualmente, analisar o que há nas redes sociais dos candidatos é de grande valia, pois é um espaço “só deles”.

 

Todavia, mesmo depois de fazer tudo isso, é possível haver dúvidas para o eleitor e a eleitora, principalmente quando estes não se identificam completamente com nenhum candidato ou candidata. Justamente para esses eleitores, gostaria de falar a seguir sobre um tópico estudado pela teoria dos jogos: a análise do voto tático.

 

O voto tático é, em resumo, uma estratégia para evitar que candidatos ruins cheguem ao poder. Essa estratégia é muito usada, por exemplo, no Reino Unido. Lá, três dos principais partidos no Parlamento são o Conservador, o Trabalhista e o Liberal-Democrata. Como os dois últimos são próximos entre si, acontece de eleitores que têm preferência pelo Partido Liberal-Democrata votarem em candidatos do Partido Trabalhista onde estes têm melhores chances de vencer, e vice-versa, a fim de evitar que políticos conservadores sejam eleitos.

 

Assim, aplicando o conceito de voto tático em Patos de Minas, poderíamos considerar a pesquisa recente do Instituto Veritá (bem como possíveis pesquisas futuras), a qual indica os candidatos com melhores chances de vitória. Entre eles, quais são os piores? E qual tem mais poder probabilístico de evitar que algum desses piores chegue ao Executivo patense?

 

Deixo claro: o voto tático é apenas uma possibilidade de decisão do eleitor, uma ferramenta — jamais uma imposição. Pode-se livremente votar em candidatos com chances baixas de vitória, seja para o Executivo ou para o Legislativo, por questões filosóficas, partidárias, familiares etc. Mas reforço: o voto tático é uma ferramenta estratégica e, em sistemas de votação, considero importante haver alguma estratégia.

 

Por fim, agradeço imensamente a todas e todos que leram e divulgaram minhas análises. Foi um prazer imenso e gratificante contribuir um pouco para as reflexões políticas de Patos de Minas, e ajudar cidadãs e cidadãos no processo de escolha de seus representantes.

Comentários

  1. Muito interessantes todas as suas análises. E muito bom também que existam jovens como você andando por todas as trilhas, sejam poéticas, literárias e políticas. Com a face ao vento, como escreveu Lucien Febvre, com coragem e lucidez. Já que está com a mão na massa, para não dizer outra coisa, seria interessante de sua lavra, uma pequena genealogia de cada candidato. Apenas até aos avós o que seria o suficiente. Que tal? Quem tem tem medo de seu passado? Eu poderia fazer, mas não sou bom o passado das pessoas vivas, prefiro as suas obras, preferencialmente escritas.

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    1. Olá, eduardotouca. Muito obrigado pela sua leitura e pelo seu retorno. Fico feliz que tenha gostado das minhas análises.

      Sobre sua sugestão, infelizmente não tenho conhecimentos suficientes para fazer um trabalho genealógico de cada candidato com o mesmo rigor, rigor o qual tive em minhas análises acerca dos planos de governo.

      Assim, se não posso ser justo com todos os candidatos sem fazer-me superficial demais, prefiro não me aventurar.

      Sinta-se sempre bem-vindo em meu blogue para leituras e comentários!

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