Sus!


Tenho uma disciplina técnica chamada Princípios de Organização do Trabalho – apelidada mui carinhosamente de “POT”. Ora, eu gostaria de deixar claro, já no primeiro parágrafo, que a palavra “organização”, em seu nome, é empregada no significado de “entidade que serve à realização de ações de interesse social, político etc.; instituição, órgão, organismo, sociedade” – definição extraída do dicionário Houaiss.

Recentemente, em uma aula dessa matéria, estudei tendência – termo no sentido de “orientação comum em determinada categoria ou grupo de pessoas”, em palavras de Michaelis – e sua relação com o mercado de trabalho. Nesse viés, eu e alguns colegas meus recebemos a incumbência de aprofundar a tendência de aumento da população brasileira com mais de sessenta anos.

Ora, foi-nos pedido que criássemos em ideia uma empresa atenta a tal fenômeno demográfico, e que a apresentássemos à turma. Após discutirmos, imaginamos uma academia de atividades físicas especialmente dedicada a idosos – haveria ioga, aeróbica, hidroginástica e, até mesmo, caratê.

Seguindo nosso planejamento, observamos que se faria necessário ter uma boa propaganda, destinada especialmente ao público-alvo (pessoas experientes). Notamos ainda que, ultimamente, vêm crescendo os números de casos de depressão em pessoas mais velhas. Destarte, pensamos que deveria fazer-se presente na publicidade um coach.  

Dessa forma, esquematizamos nossa propaganda: uma treinadora apareceria a recrutar um velhinho, e a instruí-lo: “Para cima! para baixo! para cima! para baixo!” – algo próximo à brincadeira na qual se diz “morto” e “vivo”. A certa altura do campeonato, o exercício seria condimentado com palavras de ação. “Para baixo, ‘INSS’! Para cima, ‘SUS’!” – gritaria a jovem instrutora. “Seja seu próprio body!” – diria o coach, a cada cinco segundos. “INSS! SUS! INSS! SUS!”. Por fim, com edições corretivas por computador, o velho sairia de cena aparentando alguém de quarenta e três.

Não obstante, minha intenção ao contar essa história toda é dizer que o Sistema Único de Saúde é também interjeição dicionarizada da língua portuguesa. E que, além disso, eu e meus colegas empregamos tal oxítona de maneira correta em nossa publicidade, ainda que desconhecêssemos o significado interjetivo da palavra.

“Sus”, segundo Michaelis, é uma “expressão de coragem ou ânimo: Sus! Não é hora de baixar a cabeça”. Lê-se nas Geórgicas de Vírgilio, em tradução de Castilho: “Assoma a estrela-d’alva, e quer nascer o dia!/Sus! para o campo fresco!” – concluo minha crônica a dedicar um “sus!” a quem está na fila do SUS e/ou é obrigado a levantar cedo nas terças-feiras.

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