Terno e outras roupas


Recentemente, li uma nota na qual o IFTM foi acusado de violar regra nas Olimpíadas Estudantis Patenses. O instituto, segundo o informativo, seria punido com desclassificação. Mas o que me foi interessante é a norma violada, a qual é, na verdade, acerca de vestimentas. Sem obstáculos, mais curiosa ainda foi a roupa que causou tal infortúnio.

Diz o comunicado: “um de seus atletas [...] estava jogando de terno em quadra”. Era uma partida de futsal. Ora, quando li, refleti por longos momentos. O que levaria alguém a chutar uma bola de indumentária formal? De que forma o ato de competir com traje do mais alto rigor poderia somar ao desempenho de um participante?

Por mais que eu me esforçasse a entender a complexa situação ocorrida, tive apenas a leviana conclusão de que perdi um grande jogo. Lamentei-me profundamente por não ter comparecido à partida. O que eu estava fazendo nesse horário mesmo? Nem me recordo mais. Enfim, qualquer compromisso em que eu estivesse poderia ser muito compensativamente substituído por esse episódio esportivo.

Tangenciando o assunto, eu gostaria de comentar que outra norma parece-me ter também as suas implicações com vestimentas: a Norma Culta da língua. Se eu quisesse ater-me apenas à temática de morte, eu poderia escrever os próximos parágrafos tão somente discorrendo sobre isso, já que suas expressões coloquiais são mais numerosas que os fios de algodão de minha camisa.

“Abotoar o paletó”, “bater as botas” e “vestir pijama de madeira” são apenas algumas das muitas formas de se referir ao que ocorre após se “pendurar as chuteiras”. Digitei “roupa” no dicionário Priberam e achei três expressões idiomáticas que eu desconhecia: “chegar a roupa ao corpo/couro/pelo” (que significa bater, surrar), “haver roupa na corda” (o mesmo que “alertar para a necessidade de falar baixo ou com cautela porque a conversa pode ser ouvida por terceiros”) e “lavar roupa suja” (“discutir, fazendo acusações e revelando publicamente intimidades, segredos ou outros assuntos privados”).

Por fim, veio-me à mente a hipótese de que a expressão “jogar de terno”, na nota das Olimpíadas Estudantis Patenses, não devesse ser interpretada “ao pé da letra”. Digitei-a em um buscador da internet e verifiquei que minha teoria se confirmava. “Jogar de terno” significa jogar com elegância, técnica e profissionalismo.

Ora, momentos depois, concluí que o comunicado olímpico não se passava de uma facécia feita pelos próprios competidores do instituto. Sem empecilhos, depois eu soube que essa preocupou até mesmo a coordenação de ensino do campus. Não obstante, a mim a pilhéria não foi “de má nota”; muito pelo contrário: foi-me de imenso aprendizado linguístico.

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