Moreno opinada



Fui à escola cedo; ir-se-ia comemorar o dia da família. Meus pais não puderam comparecer – tinham seus compromissos. Sem empecilhos, cheguei feliz ao instituto em que estudo, acompanhado de minha segunda família – a qual engloba discentes, docentes e técnicos administrativos.

Em verdade, a programação do evento não fora anteriormente revelada por completo; assim, eu desconhecia o todo que seria desenrolado naquele dia. Por conseguinte, confesso que minha alma estava a cultivar alguns anseios e expectativas em relação ao sábado letivo.

Ademais, eu havia convidado meu professor de violino a participar do evento; mas não contava com sua presença, pois ele não manifesta grandes interesses por atividades acadêmicas – ainda que, na comemoração em questão, inexistisse muito academicismo.

Lá, cumprimentei pessoas queridas – das quais eu tinha saudades, já que não as via há, aproximadamente, catorze horas. Fui abraçado por seres humanos sorridentes, acenado por familiares de colegas de classe – tudo ia realmente bem.

Mas houve um imprevisto – note-se que imprevistos, se fossem seres vivos, seriam os entes os quais comprovariam, indiretamente, a teoria da geração espontânea. Suas importâncias podem ser confirmadas observando que Abranches, citado por mim em outra crônica, é autor de um livro chamado A era do imprevisto. Enfim: algo inesperado ocorreu no sábado da família.

E foi algo bom. “Imprevisto” não é o mesmo que “imprevisão”. A última palavra, segundo versão on-line do dicionário Aurélio, significa “falta de previsão; negligência; desmazelo” – enquanto o primeiro vocábulo quer dizer apenas “não previsto”.

Ora, ocorreu na festa uma surpresa positiva: anunciou-se que uma grande violinista apresentar-se-ia no evento. Ouvi alguém comentar que talvez fosse Chloé Trevor. Escutei de outra pessoa que possivelmente seria a fascinante Leticia Moreno. E eu apenas me perguntava: como seria possível que tão grandes instrumentistas viessem à minha escola?

De fato, um dos teorizadores tinha razão: Freud. Os sonhos são a realização de desejos ocultos do indivíduo. Acordei alegre por ter passado por cenas mentais tão interessantes; embora, na prática, eu estivesse inconsciente o tempo todo. Por fim, foi a inopinada Moreno quem visitou Patos de Minas, e que interpretou de forma exímia uma música espanhola.

Não obstante, resta-me ainda a vontade de apreciar, presencialmente, a belíssima violinista de Madri. Sinto que um dia ainda terei a oportunidade de concretizar esse sonho. Enquanto isso, procuro valer-me de minha aprendizagem musical, de meus jogos de palavras e de minhas falhas tentativas de viagens extracorpóreas.

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