O livro de mármore
Pouco após a publicação de O livro de areia pela Companhia das Letras, talvez em 2010, talvez em 2011, eu o li. Eu não estava nem na metade de “O outro”, o primeiro dos contos, quando fui inundado por um profundo assombro. Tive a sensação de estar correndo um grave risco se continuasse com a leitura, que era o de, aos vinte e poucos anos, ter lido o melhor livro de todos os que eu já havia lido e de todos os que eu ainda haveria de ler. A biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem, que o tinha recém-adquirido, contava com a obra completa de Borges, bem como com a obra completa de tantos outros escritores, e com a incompleta de um número ainda maior deles. Terminei a leitura de “O outro” e devolvi o livro à estante. Não tive coragem de continuar. Desde então li os demais livros de Borges — de fato, todos os que eu ainda não havia lido menos O livro de areia (e todos eles ótimos, menos os de poemas; para mim, a contribuição do grande mestre à poesia é nula) —, li alguns trabalhos ...