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Autorretrato

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  As votações em Patos de Minas terminaram e os resultados já estão no ar. Além de servirem para eleger representantes, as eleições também servem para nos mostrar quem somos. A campanha nos mostrou que somos muito interioranos. Não digo que isso seja bom nem ruim, mas somos. Quando uma figura política revelou que ia à cidade vizinha comprar carne, por exemplo, ficamos ofendidos (embora, depois, a tenhamos perdoado). Por sua vez, os resultados desta noite nos mostram que somos muito “de direita” — e que, talvez, estejamos nos tornando mais “de direita” do que já éramos. Não houve candidato a prefeito de esquerda; nenhum candidato a vereador de esquerda se elegeu. Por outro lado, se votar bem é votar em quem nos representa, acredito que saibamos votar muito bem. Os candidatos hoje eleitos representam quem somos: uma cidade impecavelmente conservadora, que não tem dificuldades de transitar entre cordialidade e intolerância; que vota não em partidos ou em ideias, mas em pessoas amigas ou d

Três apontamentos sobre a disputa eleitoral patense

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Embora eu pouco esteja acompanhando a disputa eleitoral patense, atrevo-me a fazer aqui três breves apontamentos sobre ela. Para isso, fundamento-me, de forma quase exclusiva, nos planos de governo e nos conteúdos postados pelos candidatos nas redes sociais. Não assisti a nenhum debate ou entrevista; portanto, eu posso estar desatualizado, mas creio que não a ponto de prejudicar estas opiniões que darei. Sobre o candidato Falcão: em suma, se ele não se envolver em nenhum escândalo, sua vitória é praticamente certa. Dificilmente existe algo que outros candidatos possam fazer ou dizer que mude o fato de a maior parte da população ser favorável ao atual prefeito. Embora Falcão já tenha dito que não acredita em reeleição, que jamais iria se recandidatar, ei-lo de novo. Como parte de sua estratégia política, ele deveria evitar polêmicas, pois estas lhes podem custar alguns votos. Exemplo de polêmica recente é um vídeo, postado em rede social, em que faz referência estética a Pablo Marçal, c

Prova

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Ontem me senti bastante envergonhado. Explico: ultimamente tenho dedicado os meus dias, quase todos, ao estudo para um concurso público de nível médio. Na verdade, venho me preparando para ele desde bem antes de sair o edital; é algo ao qual realmente estou dedicado. As matérias que preciso estudar não são muitas. A maioria delas, já as havia estudado com mais ou menos afinco, por serem recorrentes em concursos e por eu estar estudando para outro concurso — que as cobra —, de nível superior, há bom tempo. Uma matéria exigida pelo exame de nível médio, porém, não consta no edital desse outro concurso, de modo que eu ainda não havia me preparado para ela. Acontece que deixei para estudá-la no final. A razão disso foi a seguinte: trata-se de um conhecimento com que posso certamente dizer que tenho intimidade, por me acompanhar desde a infância. Dessa forma, não é algo que eu precisaria estudar para a prova desde o início. Falo da matemática. A matemática me acompanha desde pequeno. Chegue

Comentário sobre Fl 1,23-24

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“Sinto-me atraído para os dois lados: tenho o desejo de partir, para estar com Cristo — o que para mim seria de longe o melhor —, mas para vós é mais necessário que eu continue minha vida neste mundo.” (Fl 1,23-24) Já não mais compartilho da dúvida de Paulo, que tanto me acossou na juventude, quando me sentia útil à comunidade terrena e herdeiro do paraíso celeste. Os anos pecaminosos que se seguiram trouxeram-me trevas, mas também sabedoria: sei que sou inútil a tudo e a todos, e que não mereço qualquer recompensa. Ao mesmo tempo, não considero justo receber nenhum castigo. Fiz muitas vezes o mal, mas nenhum mal que fiz foi muito. Reconheço que é certo que eu seja advertido, ou mesmo que eu receba alguma repreensão. Mas não devo ser castigado. Se a mim recai algum grave acusamento, que me seja dado o direito de defesa. Não tenho, no momento, nenhum argumento que me escuse de algo ruim que fiz. Contudo, no além, terei a eternidade e a plena consciência, e com tempo e luz infinitos cons

Compilação de pensamentos sobre aquela noite

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(1) Citei a frase “Minha pátria são os amigos”, mas não me lembrava do autor dela. Agora me lembro: é Alfredo Bryce Echenique. (2) Cantei “Você me abre seus braços / E a gente faz um país”. Ele abriu os seus braços e a gente fez um país. (3) Minha pátria são os meus amigos e minha pátria me encanta. Mas também me encanta o estrangeiro. (4) Às vezes a gente faz o estrangeiro abrindo as bocas. (5) Às vezes, com braços e bocas abertos, a gente faz o mundo.

Comentário sobre a beleza de João

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João é o homem mais bonito desta universidade. Mais que isso, é dela a pessoa mais bonita. Mais que isso, é dela o ser vivo mais bonito. Sim, sei que é difícil, senão impossível, comparar a beleza de um homem, de uma mulher e de um jacarandá. Ainda assim, creio que João é o mais bonito de todos, ou de tudo. Na minha lista de seres vivos mais belos da universidade, ele aparece em primeiro lugar. Em segundo, vem um pinheiro velho, meio tombado. Em terceiro, um ipê-roxo. Só em sexto ou sétimo lugar é que está uma outra pessoa: uma professora do Instituto de Biologia. Sei que minha lista é limitada, pois não conheço nem metade dos seres vivos da universidade. Além disso, a esmagadora maioria deles é tão minúscula que é invisível a olho nu. Mas que me importa um olho nu? Em matéria de nudez, só me importa João.

Miniconto

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Três dias após sua visita, em que dormiu em minha sala, pus, na máquina de lavar, a roupa de cama usada por ele, junto a roupa de cama usada por mim. Quando retirei toda a roupa, que já não mais cheirava a ele ou a mim, mas a amaciante, notei que havia, em diversas peças, fios de cabelo. Meu cabelo é castanho. O dele, loiro. Na fronha em que repousei a cabeça ao longo da semana, havia um fio loiro. Na coberta que o aqueceu naquela noite fria, um fio castanho. Na manhã seguinte, quando o encontrei, recomendei que tomássemos cuidado com nossa iminente calvície.