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Mostrando postagens de dezembro, 2020

Quem é “@expondocasoescravo”?

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Não sei, e esse é o problema. Desde que o caso de Madalena foi noticiado no Fantástico, na semana passada, a página “EXPOSED CASO MADELENA” tem ganhado força no Instagram: já são quase 50 mil seguidores. Eu não vinha dando muita atenção à página, mas hoje um amigo meu comentou comigo que o perfil começou a arrecadar dinheiro, então achei necessário escrever este texto.   A primeira coisa a se considerar são as contradições do “@expondocasoescravo”. Este é um diálogo da madrugada de hoje, que está nos stories da página:   Interação: Será que o X vai continuar casado com a Y? @expondocasoescravo: Eles se separaram. Interação: O X e Y se separaram? @expondocasoescravo: Sim Interação: A Y não separou ela está em PM [Patos de Minas] junto com ele muita gente já viu eles juntos @expondocasoescravo: Ué se vc tá dizendo tão tá né... Interação: A Y NÃO SEPAROU @expondocasoescravo: De novo você? Já disse que se vc falou tá falado. Não vou te dar biscoito Interaç...

Patos de Minas precisa de jornalismo investigativo

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Vi muitas pessoas acusando os veículos de comunicação patenses de esconderem o caso de Madalena, revelado no último domingo em rede nacional. Supostamente, os jornais da cidade saberiam do caso e não o noticiaram. Acho muito improvável, e gostaria de dizer o porquê. Mas, antes de qualquer coisa, afirmo que meu intuito com isso não é defender a imprensa patense — na realidade, tenho severas críticas a ela —, senão fazer uma breve análise na posição de um leitor e consumidor dessa mídia.   Em primeiro lugar, acho improvável que a imprensa de Patos de Minas soubesse do caso porque, grosso modo, não existe jornalismo investigativo na cidade. Sei que o conceito de “jornalismo investigativo” é controverso, pois, a princípio, todo jornalismo é (ou deveria ser) investigativo. Mas me refiro ao que é feito por sites como The Intercept ou Agência Pública. Nunca li, por exemplo, uma matéria patense em que foi dito que uma informação foi obtida mediante a Lei de Acesso à Informação, algo qu...

No estrangeiro

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Fiquei surpreso quando, em um ponto de ônibus, perguntei a um homem do campo onde ele morava. Com seu jeito simples de se expressar, ele me respondeu que morava “no estrangeiro”. Pensei que ele se referia a qualquer torrão de terra fora do município — ou talvez do estado, mas não mais do que isso. Seu sotaque era brasileiro. Sua cara e seu corpo eram brasileiros. Além do mais, sua roupa era tão simples (e brasileira) que não me impressionaria se o homem não tivesse sequer uma carteira de identidade. “E onde é que fica o estrangeiro?”, perguntei. Tirando o chapéu, ele apontou para os fundos da cidade e me explicou o caminho: “Atravessa a ponte, daí vai seguindo toda a vida até a estrada de terra, e segue outra vida e vira à esquerda, e vai...” Fui enumerando e descobri que, ao todo, seriam necessárias cinco vidas para se chegar ao estrangeiro. Perguntei a ele: “São quantos quilômetros?”. “Uns trinta”, ele me disse. O estrangeiro ficaria, portanto, a apenas trinta quilômetros de mim. ...

Esquina

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  Ontem, enquanto eu andava na rua ao entardecer, senti algo de tontura; creio que devido ao cansaço, à ansiedade, aos barulhos da rua, a tudo. Olhei para frente e vi um homem com andar estranho. Ele estava mais ou menos longe, e minha visão para longe estava cansada demais para ser lógica, de tal forma que não consegui concluir se o homem vinha ou ia, isto é, se ele se aproximava ou se afastava. Creio que andava na mesma velocidade que eu, e a rua era comprida e reta. Seu andar era estranho, também cansado demais para ser lógico. Parecia estar acompanhado por um cachorro imaginário, pois de vez em quando olhava para o lado, para baixo. Evocava algum nome. Quando o homem e seu cachorro invisível dobraram a esquina, percebi que estavam se afastando de mim, em vez de se aproximarem. Andei mais um pouco e ouvi um barulho de gato, bravo, e supus que o cachorro o tivesse importunado. Mas depois me lembrei de que na realidade não havia cachorro. De onde vinha o barulho de gato, então? Me...