Análise: plano de governo de Águida Helena
Dando continuidade à minha série de análises dos planos de governo dos
candidatos e das candidatas a prefeito(a) de Patos de Minas, analiso, agora, o
plano de Águida Helena (PT). Trata-se de um texto de 11 páginas em que não há
capa. O documento se inicia com uma foto aérea de Patos de Minas (autoria não
informada) e com o slogan da candidata: “Patos de Minas, cidade educadora”,
além de informações básicas de identificação.
No capítulo de nome “Introdução”, Águida Helena informa que o “conteúdo
programático das propostas foi desenvolvido a partir de troca de experiências
entre os integrantes do Diretório municipal e membros da tendência articulação
de esquerda de Belo Horizonte.” Na realidade, a maior parte desse capítulo
inicial se resume à escrita em forma de parágrafos de propostas que, em seguida,
são apresentadas em tópicos.
Na introdução das propostas de governo, é dito que estas são apoiadas em
quatro pilares: o diagnóstico, que “analisa os avanços observados na cidade e
os principais desafios a serem enfrentados nos próximos anos para a área em
tela”; as diretrizes, as quais “apresentam o desdobramento dos Objetivos
Centrais do Governo para a área em questão”; as metas, que “detalham os
objetivos táticos a serem perseguidos em cada área alinhados com as diretrizes”;
e os projetos, os quais “são as ações práticas que, em conjunto, permitirão
atingir as metas”.
Nesse sentido, o primeiro eixo explorado por Águida Helena é a educação.
As dezoito propostas elencadas nessa esfera comprovam que a pauta educacional será,
de fato, prioritária para a gestão, caso a chapa seja eleita. A maioria dos
objetivos elencados são bons e executáveis, como a criação de um curso
preparatório para o Enem e a prática de ações de combate ao bullying em ambiente escolar. Não obstante,
algumas propostas teriam fortes obstáculos em uma possível execução: a abertura
de quadras poliesportivas nas escolas rurais para a comunidade externa aos fins
de semana exigiria que profissionais protegessem o patrimônio escolar do
vandalismo; a reativação de escolas rurais que encerraram seu funcionamento por
falta de alunos não atrairia novos estudantes; a implantação do “curso de
empreendedorismo nas escolas, aos sábados, como carga horária extra” iria de
encontro ao interesse ou à disponibilidade dos alunos.
Na área de saúde, a candidata defende, entre outras propostas, a criação
de um hospital municipal, a “Promoção de campanhas
itinerantes, em todos os povoados, voltadas a exames oftalmológicos,
diabéticos, ginecológicos e urológicos”, e a “Distribuição gratuita de
medicamentos para doenças como pressão alta, diabetes, colesterol e outros” — o
que seria excelente.
A respeito do meio ambiente, Águida Helena defende que “existe rios
aéreos de umidade que vem da Amazônia e garante as chuvas e a boa fertilidade
da nossa região por isso a preservação da Amazônia também tem que ser pauta de
preocupação de nosso governo”, o que é verdade — mas uma campanha de
preservação da Amazônia em Patos de Minas não soa nada pragmático. Ótimas propostas
nesse setor são a “Despoluição do rio Paranaíba” e o “Programa amplificador de
reciclagem do lixo”. A proposta menos executável, por sua vez, parece-me ser a “Criação
de projeto para o rio Paranaíba como atrativo turístico para geração de renda”,
considerando as circunstâncias atuais em que o rio se encontra.
Em “Infraestrutura”, a candidata apresenta boas propostas, como “Aumentar
a taxa de cobertura da rede coletora de esgoto”, “Construção de calçamento nas
principais ruas dos povoados” e “Implantação de Plano de Gestão dos Resíduos
Sólidos com direcionamento correto do lixo”. Sem embargo, a ideia de construção
de casas populares por meio de mutirões é boa no papel, mas de difícil execução
(quem, com os conhecimentos técnicos necessários, se disporia a trabalhar
gratuitamente para a prefeitura na construção de residências?).
Em “Agricultura”, Águida Helena propõe ações regulares. Apenas me chamam
a atenção os dois últimos tópicos: “Perfuração de poços artesianos em povoados
do município” e “Proporcionar o acesso dos pescadores artesanais de pequena
escala aos recursos marinhos e mercados”. O primeiro ponto é chamativo porque,
apesar de ser uma ótima ideia, é necessário, antes, realizar estudos que
avaliem a viabilidade da perfuração de um poço artesiano para o atendimento de uma
comunidade — o que não garante que haja, por exemplo, recurso hídrico subterrâneo
suficiente para essa finalidade. Por sua vez, o segundo ponto chama a atenção
acerca do termo “recursos marinhos”: o que o acesso a “recursos marinhos”
proporcionaria a pequenos pescadores de Patos de Minas, e como isso poderia ser
feito?
Na parte de segurança, a candidata elenca cinco propostas, que
transcrevo a seguir: “Criação de Guarda Municipal”, “Implantação de vigilância
comunitária nas localidades mais populosas”, “Solicitação de implantação de uma
Companhia Independente da Polícia Militar no município”, “Instalação de câmeras
em torres de observação nas periferias, que enviarão imagens de toda cidade em
tempo real para uma central da Guarda Municipal” (seria positivo e viável?) e “Contratação
de empresa especializada em gerenciamento de transito” (proposta repetida em “Infraestrutura”).
A seção de cultura, esporte e lazer é, sem dúvidas, a mais insuficiente
do plano de governo de Águida Helena, dado o potencial cultural que Patos de
Minas tem. Essa parte se limita às cinco propostas que se seguem: “Programas de
incentivo as práticas de esportes e realização de eventos esportivos (passeios
ciclísticos, maratonas, torneios e competições entre escolas)”, “Resgatar os
festejos de manifestações culturais (carnaval, natal, réveillon)”, “Criação do
festival da agricultura para promoção dos agricultores e da cultura rural”, “Criação
do centro de tradição cultural e do programa municipal de valorização dos
artistas da terra” e “Criação do moderno programa para instalação de WIFI
(internet móvel) nos principais pontos e praça da cidade para facilitar
comunicação e interação da população acompanhando as novas tecnologias”.
Sobre assistência social, destacam-se as propostas de “Criação do
conselho municipal de políticas para pessoas Lgbts”, “Implementação de plano
para erradicação de casas sem condições mínima de moradia” e “Combate e
erradicação do trabalho infantil e a exploração sexual”.
Em “Geração de emprego e renda”, a candidata não apresenta grandes novidades
ao longo dos quatro tópicos elencados. O terceiro ponto, de “Garantir a
igualdade de oportunidades e reduzir as desigualdades de resultados, inclusive
por meio da eliminação de leis, políticas e práticas discriminatórias e da
promoção de legislação, políticas e ações adequadas a este respeito”, deixa-me
confuso. Quais leis, políticas e práticas — sob o poder da Prefeitura Municipal
— são discriminatórias acerca da “igualdade de
oportunidades” e das “desigualdades de resultados”? E o que significa,
exatamente, “desigualdade de resultados”?
Por fim, Águida Helena apresenta, ainda, duas seções finais: a primeira
se chama “Objetivos e principios de atuação do governo”, e a segunda se chama “Principios
de atuação de governo”, de nome quase igual à anterior. Na realidade, a primeira
é a confirmação de metas já ditas ao longo do texto, enquanto a última é a
reafirmação de aspectos norteadores de gestão.
De modo geral, o plano de governo de Águida Helena consegue responder a
quase todas as principais questões do município, mas em diferentes níveis de
êxito e de clareza. De resto, a alternância aleatória entre as fontes Times New Roman e Calibri nos tópicos das propostas e a irregularidade de formatação
dos títulos demonstram um descuido com a organização visual do plano de
governo. Ademais, faltou um revisor para tratar erros de português e promover o
mínimo de paralelismo sintático.
Comentários
Postar um comentário