Marreco, Patos e patuscadas
Em ato ridículo e persecutório, a Prefeitura de Patos de Minas vetou a realização de evento cultural em comemoração ao Dia do Trabalhador no Parque Municipal do Mocambo. Por meio de um parecer que se intitula “técnico” e “ambiental”, assinado pelo secretário de agricultura, pecuária e desenvolvimento sustentável, o evento foi proibido, mas, estranhamente, sem se fazer qualquer menção direta a ele. Na verdade, o documento não passa de um compêndio de ataques ao artista organizador — que requereu a autorização da Prefeitura — e ao Marreco, um dos principais festivais artísticos e culturais da região, tradicionalmente realizado no parque.
O parecer pode até “parecer”
sério, mas é falacioso, pois usa a falsa premissa de que o Marreco, para o qual
o mencionado artista colabora, tem problemas, e que, por conseguinte, uma nova
patuscada organizada por esse artista também seria problemática. Transcrevo as
palavras finais do próprio documento: “A experiência de anos anteriores [de
Marreco] não nos traz segurança para que este evento [comemoração ao Dia do
Trabalhador, que nada tem a ver com o festival] seja realizado garantindo a
preservação do parque.”
As críticas giram em
torno de uma certa preocupação “ambiental”, mas que fecha os olhos para a
própria realidade. Em suma, é afirmado que o Marreco — ou melhor, sua equipe
organizadora — é responsável por: depredação do patrimônio público, mau uso do
espaço, danificação do piso do parque, poluição sonora, sobrecarga da rede elétrica
e concentração de usuários de drogas. E que, em consequência disso, a noite em
comemoração ao Dia do Trabalhador deve ser proibida, já que seu organizador é o
mesmo do festival.
O parecer é perverso em
muitos sentidos. Historicamente, o Marreco, ao contrário de destruir o Mocambo,
revitalizou-o, ressignificou-o. Usou seu espaço como lugar de encontro, de
exercício de direitos cidadãos, de liberdade de expressão. O parque não se emporcalha
com arte e cultura, mas com o lixo que nele pode ser encontrado todos os dias
do ano. O documento tem a pouca-vergonha de mostrar imagens de 2019, tiradas
durante a semana de realização do Marreco, que nada dizem, e só escondem a
riqueza cultural do evento. Talvez as minhas, que deixo no final deste texto,
possam dizer alguma coisa. Tirei-as em 2018, semanas antes do Marreco. Elas
retratam o descuido com a limpeza do parque, que é de responsabilidade da
Prefeitura.
Nos bastidores,
especula-se que o ridículo ato seja parte de uma perseguição ao artista organizador,
ou ao festival. Talvez seja isso, mesmo. Todavia, para mim, trata-se, antes de
qualquer coisa, de uma afronta ao público desses eventos, que é formado, em
grande parte, por gente jovem e por pessoas críticas e conscientes, que têm
coragem de gritar, por exemplo, “fora, Bolsonaro”. A Prefeitura — ou, ao menos,
seu secretário — parecem querer evitar o grito político do trabalhador, da
resistência. Não somente agora, no primeiro dia de maio, mas até o fim deste
ano eleitoral. Por isso, é bom garantir: nada de Marreco este ano! Nada de
gente bradando “Lula presidente”! Fiquemos apenas com os violinos ordenados das
apresentações clássicas ou com as palmas e as botas do sertanejo...
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