Em casa

 


Hoje cheguei a Campinas, de mudança. No caminho, quando da caminhonete dos meus pais avistei a grande metrópole ao longe, meus olhos viraram-se para trás, ingenuamente, a ver se Patos de Minas, minha terra natal, ainda se encontrava no horizonte. Para minha surpresa, lá estava ela, a contrariar qualquer racionalidade geográfica. Ali estava, mesmo que pequena, a serra próxima à casa dos meus pais, que já tanto subi nesta vida. Ali estava, ainda que escondida, a igreja dos capuchinhos entre duas avenidas, na qual tantas vezes já fui. Eu chegava a Campinas, no estado de São Paulo, mas tudo que era meu estava ali, a poucos quilômetros de distância: o distrito de Alagoas, onde estudei na infância; o IFTM, onde fiz meu ensino médio; o Parque do Mocambo, onde me encontrava com meus colegas.

 

Refletindo-se com indiferença, de fora, é possível afirmar que toda terra tem belezas e mazelas, que nenhuma localidade é mais interessante que outra, que nenhum sítio é mais ou menos especial. Com essa análise, alguém poderia concluir que todo apego à pátria é inútil, como escreveu, de modo parecido, o espanhol Camilo José Cela: “O nacionalismo se cura viajando”. Mas, hoje, admito que reconheço a singularidade de onde nascemos. Pois hoje me torno campineiro, mas não deixo, por isso, de ser patense. Hoje me torno paulista, mas não deixo, por isso, de ser mineiro. Se um dia eu me mudar de Campinas, e do estado de São Paulo, não serei mais campineiro ou paulista. Mas continuarei sendo, para sempre, patense e mineiro — pois estes gentílicos dizem respeito não somente a onde morei, mas, também, a onde nasci.

 

Na viagem, na caminhonete, meus olhos voltaram-se para trás por um momento. Sem embargo, no instante seguinte, eles fitaram novamente a metrópole. Certa vez, o escritor peruano Alfredo Bryce Echenique escreveu que “mi patria son los amigos”. Olhando para Campinas, concordei com ele. Do que mais sentirei falta não serão lugares, mas amigos: pais, tios, primos, colegas, professores, vizinhos, minha avó, meus gatos... Ao mesmo tempo, sei que em pouco tempo terei minha pátria constituída aqui, com a formação de novos laços de amizade. Além do mais, tenho já a certeza da companhia de meus livros e de Arthur Pereira, meu colega no ensino médio, que morarão comigo.

 

Após atravessar esses e aqueles pensamentos, cheguei a meu destino. Desci do carro, carreguei a mudança, escrevi uma crônica. Estou em casa.

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