José Luiz, o vereador

 



Observação preliminar: antes que eu seja processado por alguma pessoa sem capacidade de interpretação textual, ou que somente saiba interpretar um texto conforme lhe convém, afirmo que, neste apontamento que escrevi e que reli várias vezes, não há qualquer acusação, difamação, injúria, calúnia ou ato antiético da minha parte, mas apenas reflexões críticas e questionamentos que ora levanto e desenvolvo.

 

Acabo de ler uma notícia, publicada em um site patense, segundo a qual o vereador de Patos de Minas José Luiz, do Podemos, conseguiu, sem qualquer dificuldade e com impressionante rapidez, um habeas corpus que suspende para ele e para seu assessor os efeitos de um decreto recente de Lagoa Formosa. O decreto em questão, publicado na última terça-feira (11/01), exige comprovação de pelo menos uma dose de vacina contra a covid-19 para se entrar em estabelecimentos comerciais, eventos e escolas no município.

 

Aos leitores que não são da região, gostaria de enfatizar que o vereador não é de Lagoa Formosa, mas de Patos de Minas, minha cidade natal.

 

Pois bem: ainda conforme relata a notícia, o assessor do político, que coincidentemente é seu advogado, argumentou à Justiça que o decreto contrariaria o direito conferido a todos os cidadãos brasileiros de ir e vir, resguardado pela nossa Constituição — o que não me parece um bom argumento, mas uma simples repetição de um apelo frágil que já foi rejeitado em outras ocasiões e circunstâncias no Brasil durante a pandemia. Sem embargo, em uma decisão publicada hoje (14/01), assinada pelo juiz Vinicius de Avila Leite, o solicitado habeas corpus foi concedido na forma de um salvo-conduto (não tenho certeza se utilizo essas complexas expressões jurídicas de maneira correta), um instrumento que permite a seu portador transitar livremente em um dado território (no caso, o município de Lagoa Formosa).

 

O curioso, porém, é que a decisão do magistrado se aplica tão somente a José Luiz e a seu assessor. Em outras palavras: todos os lagoenses devem continuar seguindo o que foi determinado pelo decreto, editado para prevenir a disseminação da covid-19. Quem tem a “carteirinha branca”, em todo o cosmos, são apenas o vereador de Patos de Minas e seu advogado. Nem mesmo para o juiz vale a decisão por ele escrita.

 

Minha dúvida é: o que a dupla patense tem de diferente para alcançar tamanho privilégio? Imagino que imunidade ao coronavírus esteja fora de cogitação. Todos não são iguais perante a lei? E, mais ainda: o que leva um vereador de Patos de Minas a buscar tal exclusividade em outro município? Não seria mais útil centrar seus esforços políticos em prol do território e do povo aos quais ele deveria servir?

 

Devido a enormes divergências em relação a valores éticos, morais e políticos, não acompanho José Luiz nas redes sociais. Quando leio seu nome em sites de notícias, trata-se, quase sempre, de mais um ato polêmico — e absurdamente desnecessário — por ele praticado, como quando tentou entrar em sala de aula para averiguar suposta “denúncia” de “ideologia de gênero”, ou quando criticou a Câmara Municipal em uma publicação de Dia das Mães que homenageava o falecido ator Paulo Gustavo, por meio de foto da famosa personagem Dona Hermínia. Ou quando retirou cartazes críticos em protesto pacífico em praça da cidade. Ou, ainda, quando desmereceu publicamente trajetória acadêmica de aluna do ensino médio em reunião ordinária.

 

Não entendo por que José Luiz ainda é vereador de Patos de Minas. Mas entendo perfeitamente por que ele foi eleito, já que aqui há muitos eleitores que pensam exatamente como ele — o que, felizmente, não se reflete predominantemente no conjunto dos membros da Câmara. Suspeito, na verdade, que a maioria da população minimamente ética do município já esteja cansada de ver seus representantes se distanciarem dos propósitos que seus cargos supõem — e exigem. Penso que os políticos que não se interessem em fazer o que lhes cabe deveriam apresentar um pedido de renúncia. Ninguém merece aturá-los ou bancá-los com os caros impostos que pagamos.

 

E, para mim, o trabalho desenvolvido por José Luiz como vereador, até o presente momento, tem sido bastante infrutífero. Talvez, parte disso possa ser explicada por seu forte alinhamento ideológico com um presidente que já afirmou que gastava dinheiro de auxílio-moradia para “comer gente”, que “tudo é ‘coitadismo’” e que não é por intermédio do voto que se muda o país, mas de uma guerra civil que mate “uns 30 mil”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Prova

Miniconto

Compilação de pensamentos sobre aquela noite