O que falta aos escritores patenses
(Este texto reflete
minha opinião. Não falo, aqui, em nome do conjunto de escritores de Patos de
Minas.)
Fui recentemente
perguntado sobre o que penso faltar aos escritores patenses: se incentivos
financeiros, se apoios culturais etc. Indaguei à pessoa que me fez essa
pergunta se ela já havia lido algum dos meus livros. Ela disse que não. Ora, o
que falta aos autores daqui é justamente isto: serem lidos.
Certa vez, pouco tempo após
o falecimento do professor e escritor Milton Santos, a geógrafa Maria Adélia de
Souza, então professora da Unicamp, foi convidada pelo reitor dessa
universidade a participar de um evento em homenagem a Milton, que daria nome a
uma praça da instituição. Surpreso, o reitor ouviu como resposta um sincero não
de Maria Adélia. Posteriormente, ela explicou que a melhor homenagem a esse
grande autor não era transformá-lo em nome de praça, mas, sim, fazer que suas
obras sejam conhecidas, lidas, discutidas e disponibilizadas nas bibliotecas da
universidade. (Essa história encontra-se descrita no livro Teorias da ação, da socióloga Ana Clara Torres Ribeiro.)
Com efeito, o maior
desejo de um escritor é ser lido. O que, via de regra, não acontece em Patos de
Minas. Quando entramos nas bibliotecas das instituições de ensino daqui e
procuramos pelos títulos patenses, onde eles estão? Em geral, faz-se presente só
uma ou outra obra patense, das mais “consagradas” na escala local. O que foi publicado
nos últimos anos passa longe desses ambientes.
A melhor homenagem aos
escritores patenses não é um pagamento financeiro. Artistas como escultores e
artesãos realmente precisam adquirir materiais para a produção de suas obras, o
que torna justificável um auxílio desse tipo. O mesmo, contudo, não ocorre com
escritores, para os quais é possível, atualmente, produzir arte pressionando
teclas do computador.
O que falta aos
escritores patenses tampouco é terem seus nomes inscritos em localidades. O que
não significa, todavia, que nomear praças e ruas com as graças de falecidos
autores do município seja uma má ideia. Tampouco falta aos escritores daqui
homenagens na forma de medalhas, moções de aplausos ou troféus, ainda que, de
fato, muitos artistas patenses mereçam tais condecorações.
O que falta mesmo para
que a literatura local seja valorizada como merece é ser lida, trabalhada,
discutida, estudada. A melhor ajuda aos autores patenses se acha na aquisição
de suas obras a fim de integrar os catálogos das bibliotecas de nossas escolas
públicas. As instituições de ensino particulares, se realmente se importam com
a literatura aqui produzida, também deveriam comprar obras dos autores patenses
e disponibilizá-las em suas bibliotecas.
Isso não diz respeito a democratizar
a cultura, como usualmente se defende no discurso. Conforme já nos ensinava o
escritor e diretor de teatro Augusto Boal, a valorização do cultural não se
traduz em oferecer ao povo o acesso à
cultura, como se esse já não tivesse a sua própria ou não fosse capaz de
construí-la. Traduz-se, sim, em conhecer e fazer conhecer manifestações
culturais, em estimular a cultura dos e nos lugares em que vivemos.
É isso que falta; não
exatamente aos escritores patenses, mas a Patos de Minas.
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