Eleições presidenciais: meu rascunho de utopia

 


Certa vez, o escritor uruguaio Eduardo Galeano, citando o teórico do cinema e cineasta argentino Fernando Birri, respondeu brilhantemente para que serve a utopia: “A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isto: para que eu não deixe de caminhar.” De fato, falta ao Brasil uma boa utopia, para que se caminhe para a frente, em vez de para trás, como ultimamente temos feito. Pensando assim, rascunho, aqui, uma pequena utopia para as eleições presidenciais brasileiras.
 
Parto do pressuposto de que, para se ter um bom presidente, é necessário haver, primeiro, um bom candidato. Seguindo essa lógica, se todos os candidatos forem bem qualificados (não digo, necessariamente, bons), então o presidente eleito será, também, bem qualificado. Assim, entendo que seria interessante um instrumento que permitisse selecionar democraticamente os melhores presidenciáveis. No meu sonho de república, isso se daria por meio de um processo seletivo, que rascunharei a seguir.
 
Cada civil filiado a um partido, seja ele qual for, poderia se inscrever no processo seletivo para candidato a presidente, conforme os requisitos previstos na Constituição (como ser brasileiro(a) nato(a) e ter, no mínimo, 35 anos de idade), pagando uma taxa justa referente aos gastos relativos a esse processo. Os milhares de candidatos inscritos, então, passariam por algumas etapas, a começar por uma avaliação psicológica de caráter eliminatório. Já nesta fase, imagino eu, políticos como Jair Bolsonaro e Cabo Daciolo seriam eliminados.
 
Em seguida, aqueles aptos psicologicamente a governar o país seriam submetidos a duas ou três provas fechadas, que avaliariam o conhecimento do candidato em relação: à história do Brasil, ao território brasileiro, à economia, ao direito, à diplomacia, à ciência política, à administração, à cultura brasileira, a dados demográficos do país, à educação etc. Nessa etapa, a partir do desempenho, seriam selecionados aproximadamente 25% dos candidatos inscritos, que seguiriam para a próxima fase.
 
Os selecionados, então, teriam seus currículos examinados. Os candidatos receberiam determinada quantidade de pontos para cada quesito avaliado, como experiência em cargos de liderança e formação em áreas de interesse (como relações internacionais, economia, administração pública, direito...). E, por fim, passariam por entrevistas, em que deveriam tomar decisões para casos hipotéticos ou reais (exemplos: o que você faria se a Amazônia estivesse em chamas? o que você faria se o Suriname declarasse guerra ao Brasil?), devendo demonstrar coerência e preparo nas respostas.
 
Depois desse exaustivo processo seletivo — lembro: trata-se apenas de uma utopia —, seriam selecionados 20 candidatos aptos. Tendo esses nomes divulgados, estaria encerrado o processo seletivo, e começaria o processo de formação de chapas. E onde entrariam os vice-presidentes? Simples: para a formação de uma chapa, duas pessoas aptas dentre essas 20 deveriam se unir, podendo ser do mesmo partido ou de partidos diferentes: uma seria o(a) candidato(a) à presidência; a outra, à vice-presidência. Assim, haveria, no máximo, 10 chapas, e não seria permitido haver mais de uma chapa com candidatos do mesmo partido. Dessa forma, possivelmente, alguns vencedores do processo seletivo ficariam de fora na formação de chapas, nos casos de haver, por exemplo, 3 pessoas aptas de um mesmo partido ou candidatos muito antagônicos (digamos que nove chapas se formaram, e que as duas pessoas que sobraram são muito distintas ideologicamente entre si, não interessando a elas formarem uma chapa).
 
Tendo sido as chapas devidamente registradas e validadas, o processo eleitoral seria mais ou menos o mesmo do que é hoje em dia: a população conheceria todos os candidatos, haveria debates etc. E, por fim, as eleições com urnas eletrônicas.
 
Meu rascunho de utopia daria certo na prática? Ora, a prática é outra história. Mas, pelo menos, não teríamos presidentes completamente estúpidos ou maníacos. E penso que o primeiro passo em direção ao horizonte, como disse Eduardo Galeano, seja a implementação da avaliação psicológica aos candidatos. Já ajudaria muito.

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