Varal de roupas


Tudo começou com o vento, derrubando, de vez em quando, alguma roupa do varal. “Está parecendo agosto” — comentou minha mãe. Eu não estava prestando muita atenção. “Como é?”. “Parece agosto” — ela repetiu. Olhei ao redor e senti um vento meio frio, exigindo uma blusa ao mesmo tempo em que fazia sol. “Realmente, parece agosto”. Breve silêncio. “Mas ainda estamos em junho!” — respondi, como se estivesse a confessar algum segredo.

 

Mas não pode ser segredo o que está ali para todos. “Em junho?! Já?!” — admirou-se minha mãe. Já. O tempo passa rápido, mas não sei se sempre. Para mim, os dias são lentos e as semanas passam rápido. Os meses e os anos, então, voam como o vento. Quanto maior o período de tempo, mais depressa passa.

 

Olhei minhas roupas. Não as que eu levava no corpo, mas as que secavam no varal. “O vento deve fazê-las secar mais rápido”, pensei. Seria o vento uma materialização do tempo? Tudo se apressa quando há vento: as aves voam de um lado para outro desesperadamente, as formigas trilham ligeiras seu rumo para casa, meus gatos vêm medrosos de longe antes que chova. Ninguém quer se molhar. E o que passa mais devagar do que uma tempestade?

 

Meu celular vibrou. Um amigo, de outro lado do mundo, mandou-me uma mensagem, dizendo que havia sonhado comigo. Há alguns anos, nas férias do que aqui é inverno e do que lá é verão, ele veio me visitar, ficando aqui alguns dias. Suas roupas foram penduradas no varal que eu então observava. Minha memória não é boa para vestimentas. Não recordo nem o que eu nem o que outros já vestiram. Mas aquele varal, de alguma forma, passou a me lembrar de muita gente, como se eu estivesse em uma dia solitário de agosto.

 

Ainda estamos em junho. Já estamos em junho. O que houve com março, abril? O vento levou esses meses? O tempo esqueceu-se de pendurá-los no varal dos acontecimentos? Tentei lembrar onde minhas roupas estiveram penduradas nesse tempo. Além de naquele varal que eu observava, minhas roupas também foram penduradas, este ano, no varal da casa de minha avó. Aliás, tanto no varal da casa de antes quanto no varal da casa de agora — vovó mudou de casa e, consequentemente, de varal.

 

Por enquanto, uma força maior me pende aqui. Quando o tempo chegar, quando o vento soprar, não com força, mas com delicadeza e saudade, também vou passar, assim como o tempo, assim como o vento. Em que varal se pendurará minhas roupas?

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