Sites culturais e auxílio a artistas patenses

 


Ontem (27/05), a Câmara Municipal de Patos de Minas votou o Projeto de Lei nº 5242/2021, de autoria do Poder Executivo, que “Institui o auxílio emergencial ao segmento cultural de Patos de Minas, destinados aos artistas, em decorrência da suspensão das festas e eventos em 2021, por força da COVID-19.” Em carta ao vereador Ezequiel Macedo Galvão, presidente da Câmara, o prefeito Luís Eduardo Falcão escreveu: “O presente projeto visa credenciar trabalhador e trabalhadora da cultura, da cadeia produtiva dos segmentos artísticos e culturais: incluindo artistas, produtores, técnicos, curadores, oficineiros e professores de escolas de arte, para o recebimento do auxílio emergencial cultural de Patos de Minas.” Segundo o artigo 4º do projeto de lei, “O auxílio de que trata a presente Lei será pago em duas parcelas sucessivas, no valor de R$300,00 (trezentos reais) cada.”

 

No mesmo dia (27), o Jornal de Patos, importante site cultural da cidade, publicou a notícia “Vereador Lasaro Borges pede vista em projeto de lei de auxílio emergencial para artistas patenses”. Segundo o jornal, Lasaro disse que foi procurado por vários artistas patenses para que fossem feitas adequações na distribuição da verba, o que requereria uma discussão mais profunda.

 

Hoje (28), a recentemente lançada revista Sou Patos, site que já se destaca no campo cultural de Patos de Minas, publicou o editorial “Auxílio emergencial para a cultura é uma boa?”, em que afirma que “Na visão desta revista, há outras maneiras mais interessantes e que agradariam em cheio a classe cultural patense do que um repasse sem incentivo à produção artística.”

 

A pesar de o Jornal de Patos ter escolhido manter uma posição mais informativa do que opinativa em relação ao PL em comparação à Sou Patos, inclusive por se tratar de gêneros textuais diferentes (notícia e editorial), é possível pensar em uma divergência entre as vozes de seus textos.  

 

A revista é direta em seus argumentos: para ela, receber o auxílio emergencial simplesmente não é o desejo da “classe artística patense”. “Para quem dialoga e acompanha a rotina dos movimentos culturais locais, nota-se que o anseio da imensa maioria (se não for na sua totalidade) é o de poder mostrar a sua arte e, consequentemente, os envolvidos serem remunerados pelo trabalho artístico prestado. Dessa forma, ao invés de ‘Auxílio Emergencial’, a proposta que já vem sendo sugerida pelos próprios movimentos desde janeiro deste ano, através de debates realizados em grupos de WhatsApp, é para que o Poder Executivo elabore editais emergenciais culturais, propondo que projetos sejam apresentados pela classe e que, nesses, sejam inseridas ideias que alcancem o maior número de beneficiados, incluindo artistas e prestadores de serviços (outro grupo fortemente prejudicado pela pandemia).” Em suma, para a Sou Patos, o projeto em tramitação “nada mais é que repassar recursos para que pessoas recebam o dinheiro e nada criem.”

 

Outro problema apontado pela revista é que poucos artistas poderão receber o benefício (segundo ela, dificilmente mais do que dez), na medida em que, segundo o artigo 7º do projeto de lei, pessoas com qualquer vínculo empregatício, que tenham emprego formal ativo, que recebam seguro-desemprego, que sejam beneficiárias do auxílio emergencial do Governo Federal ou que tenham rendimento tributável anual acima de R$28.559,70 ficam impossibilitadas de receber a ajuda municipal. Segundo o Jornal de Patos, porém, é previsto que cerca de 130 artistas locais sejam beneficiados.

 

Na votação de ontem, como noticiado pelo Jornal de Patos, o PL nº 5242/2021 foi aprovado no primeiro turno por 16 dos 17 vereadores patenses; entretanto, o vereador Lasaro Borges pediu vista. É difícil identificar o posicionamento implícito da notícia, escrita por Caio Machado; ainda assim, o trecho a seguir e o título escolhido para a publicação permitem imaginar uma posição crítica em relação ao vereador: “Os PL’s foram aprovados em primeiro turno por 16 dos 17 parlamentares, e após longa deliberação, entenderem se tratar de uma medida emergencial, havendo quebra de interstício com 14 votos, para que o segundo turno fosse adiantado. Entretanto, o vereador Lasaro Borges ainda optou por pedir vista.”

 

Não sei qual é a melhor forma de se ajudar os artistas patenses durante a pandemia. Entretanto, sei que essa ajuda é extremamente necessária e importante. Por isso, como sempre, defendo o diálogo: que tal se os parlamentares, antes de tomarem uma decisão, consultassem os artistas locais em necessidade? Estes, sim, (não eu, não os vereadores, não o prefeito) saberão dizer como podem ser mais bem socorridos.

 
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