Ninguém levou batatas

 


A briga de Falcão com os manifestantes hoje foi constrangedora para ambas as partes. Foi constrangedora para os comerciantes porque o novo lockdown não foi uma decisão municipal, mas estadual, e o prefeito não pode fazer nada para driblar essa ordem. E foi constrangedora para Falcão por motivos óbvios demais para serem escritos.

 

O desfecho do alvoroço foi o arremesso da máscara e dos papéis do prefeito no chão, por ele próprio. Aqui, foi constrangedor para a Patos de Minas inteira. Todos nós perdemos a briga. “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas” — escreveu Machado de Assis. Hoje, ninguém levou batatas. Os comerciantes e o prefeito receberam um pot-pourri de ódio e de compaixão, tanto da opinião pública quanto deles mesmos.

 

Não sei se ainda é válido apontar culpados pelo caos atual. Ao mesmo tempo, eu gostaria de poder afirmar que “cada um sabe de si”, mas seria mentira. Há muitos que não sabem de si; há muitos que não sabem as consequências dos próprios atos. Quando estes são cidadãos comuns, o impacto dessa ignorância é pequeno. Porém, quando são representantes ou autoridades do povo, as consequências costumam ser maiores e mais perigosas.

 

Findo o episódio de hoje, prosseguiremos na distopia nossa de cada dia. As gentes desempregadas e empregadas continuarão sofrendo, os pequenos empregadores continuarão sofrendo e os empresários continuarão fazendo sofrer. E os políticos continuarão sendo o que são. 

 

Ao menos, o desconforto de hoje serviu de ensinamento para todos: com certas pessoas, melhor não discutir. Quem são essas pessoas, vai da subjetividade de cada um. Voltemos a ser quem somos. “Depus a máscara e tornei a pô-la./Assim é melhor,/Assim sou a máscara./E volto à personalidade como a um terminus de linha.” (Álvaro de Campos)

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