Breve comentário sobre o Enem

 



O Enem 2020 foi um lixo, superando até as minhas pessimistas expectativas. A vontade que tenho é de pinicar os cadernos de prova. O Inep nunca mostrou ser tão incapaz e irresponsável quanto este ano. Para começar, a História foi apagada. Conforme apontou José Freitas Neto, professor de História da Unicamp e diretor da Comvest (comissão que organiza os vestibulares dessa universidade), o Enem “calou-se sobre as grandes questões e temas mais próximos dos séculos XIX e XX. O silêncio, em História, é mais revelador do que o que se afirma. Queremos ignorar os reais problemas de nossa sociedade? Ignorar o passado escravocrata e o autoritarismo ditatorial? Não houve guerra mundial, fascismo ou Guerra Fria no século XX?”.

 

Além de ter apagado a História, o exame cultuou a confusão nas questões de linguagens. Os gabaritos extraoficiais se dividiram várias vezes. Dependendo de qual eu seguia, minha nota era alterada em até 11%. Ontem, quando saiu o gabarito oficial do Enem, o Inep disse ser “imaturidade” uma mulher negra não querer alisar o cabelo, em uma questão de inglês; e que discriminação por sexo ou origem racial é uma relação de linguagem, em vez de preconceito, em uma questão de interpretação de texto em português. Hoje, o gabarito foi retificado, e CINCO questões de linguagens tiveram suas respostas alteradas. Além disso, duas questões já haviam sido anuladas — uma de biologia e outra de matemática.

 

E a prova do Enem foi tão arcaica que eu não me surpreenderia se eu visse um trema sobre alguma letra “u”. Como todo texto retirado da internet tem a data de acesso, foi fácil perceber que algumas questões foram feitas há anos. Duas questões da prova de humanas, por exemplo, contaram com textos da internet cujo acesso foi feito em fevereiro de 2013. O texto de uma questão de ciências da natureza, que falava sobre “uma nova técnica” contra tumores, foi acessado em 2012. Ao mesmo tempo, porém, houve textos (poucos) cujo acesso foi feito em setembro de 2020, o que demonstra que a ausência de atualidades no exame foi um projeto do Inep. Não foram abordados temas importantíssimos da história recente, nem a pandemia. Por quê? Se houve tempo para isso...

 

O Enem 2020 também foi um lixo devido à desorganização do Inep com os espaços de aplicação e os protocolos de biossegurança, como amplamente noticiado na mídia. E será possivelmente ainda pior, pois haverá a aplicação do Enem digital, a reaplicação do Enem impresso, a possível reaplicação do Enem digital… Será realmente garantida a isonomia das provas?


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