Outdoors visíveis e invisíveis

 



Acompanho, por meio de fotos, os novos outdoors que foram instalados em Patos de Minas. Lembro-me de uma aula de português instrumental que tive no ano passado, em que meu professor comentou: “Só enxergamos o outdoor que nos interessa”. De fato, isso é algo muito verdadeiro: o cartaz pode ter dimensões gigantescas e estar à nossa frente, mas, se o anúncio não é “para nós”, então não o percebemos – ou, se o percebemos, esquecemo-nos dele instantes depois.

 

Com efeito, um cartaz é eficaz quando sua mensagem é bem transmitida ao seu público-alvo. Logo, se há um pôster feito para adolescentes sobre um novo aplicativo, não importa, para a transmissão da mensagem, se idosos não compreenderem seu texto. Tampouco é importante que falantes da língua portuguesa consigam entender um anúncio que será veiculado na Rússia, por exemplo.

 

No ano passado, desenvolvi um projeto de pesquisa que visava a analisar semioticamente postais e cartazes soviéticos de comemoração do dia da mulher. Se essas imagens, produzidas na primeira metade do século passado, fossem publicadas hoje, não significariam nada a ninguém. Entretanto, para o contexto em que se inseriam, falavam muito e de modo eficaz às mulheres.

 

No contexto patense, os novos outdoors têm sido políticos. O público-alvo é claro: todos os patenses. Mesmo que esses materiais sejam críticos ao Governo, ou favoráveis ao presidente da República, fato é que o real objetivo deles não é chegar até Brasília, senão incomodar, no bom sentido do termo, os que aqui estão. E têm conseguido êxito: eles interessam à população em geral, pois esta se encontra polarizada.

 

Em inglês, “outdoor” significa “ao ar livre”. Não obstante, os outdoors patenses, ainda que estejam nas vias públicas, ganham transmissão especial por meio das redes sociais. Tornaram-se mensagens físicas feitas para se tornarem virtuais, por serem “de interesse”. Política é sempre assunto de interesse. Outdoor, às vezes é. Outdoors políticos, presentemente são.

 

Refletir sobre esses novos cartazes em meio à pandemia renderia longos artigos acadêmicos... Por outro lado, se outdoors são, por natureza, quase invisíveis, o que dizer de periódicos científicos?

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