Falha de S.Paulo

 


A Folha é falha. Depois do editorial “Jair Rousseff”, no qual o jornal comparou uma democrata torturada pela ditadura a um ex-capitão defensor de torturas e de torturadores – e após seu diretor de redação tecer uma autocrítica em relação a esse título, chamando-o de “infeliz” –, surge um novo editorial: “Volta às aulas”, publicado no dia oito de setembro.

 

Diz o texto: “Prolongar fechamento de escolas trará danos e aumentará a desigualdade”. Como argumentos em defesa do retorno às aulas presenciais, o jornal diz: “Nesta altura, torna-se claro que a chamada segunda onda da pandemia é evento incomum. [...] Nos países onde houve retorno às aulas, predomina a baixa ocorrência de infecções em ambiente escolar e raríssimos casos fatais.”

 

Com efeito, a Folha parece ignorar a realidade: neste mesmo mês, foi enviado à Comissão Europeia um relatório, elaborado por um hospital de Barcelona e pela Universidade Politécnica da Catalunha, alertando a União Europeia acerca da segunda onda da Covid-19, que já está presente na Espanha e que pode atingir países vizinhos nos próximos dias. Ademais, sobre a ocorrência de infecções nos lugares em que houve retorno à educação presencial, basta enxergar o exemplo de Manaus: com a retomada das aulas, mais de 340 professores se infectaram na cidade.

 

Não adianta se espelhar em realidades distantes se as condições não são as mesmas. Curiosamente ou não, no Uruguai há menos casos e óbitos confirmados de Covid-19 do que em minha cidade, Patos de Minas: aqui, há 1.761 casos e 51 mortes; lá, há 1.712 casos e 45 mortes (dados de hoje, 09/09). O país tem 3,5 milhões de pessoas, o município possui algo em torno de 150 mil. Os números são próximos; as realidades, não. Se as aulas presenciais uruguaias retornam, as patenses não devem copiar. Não temos condições para tal.

 

Sem embargo, a Folha acerta quando diz que as desigualdades estão aumentando. Ainda assim, antes “orquídeas tão desiguais”, como canta Milton Nascimento em versos de Celso Adolfo, do que “flores mortas”, como canta também Milton, em versos de Criolo.

 

Quem acompanha a Folha sabe que ela é falha, mas não é boba. Editoriais erram, mas jamais se equivocam. 

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