Verdade de perfil
Minha
foto de perfil já estava meio desatualizada. Pensei que eu poderia trocá-la,
como normalmente faço de tempos em tempos. Gosto muito de tirar fotos, mas sou
ainda bastante amador nisso. Gosto mais de tirar fotos de coisas que não sejam
eu; animais e paisagens são muito mais esteticamente interessantes do que minha
pessoa.
Quando
fico contente com um disparo, começo a parte da edição. Esta, para mim, é a
fase mais difícil. Sempre fico previamente inseguro, devido a meu daltonismo.
Muitas vezes, quando não sei se a cor da fotografia editada é natural ou de
acordo com o tom pretendido, peço a ajuda de algum amigo – ou, simplesmente,
deixo a foto em preto e branco.
Ontem
decidi atualizar minha foto de apresentação nas redes sociais. Mas surgira
outro agravante: um calázio em uma pálpebra de meu olho direito. É a segunda
vez na minha adolescência que tenho esse problema. Havia, então, duas
possibilidades para mim: a primeira era fazer valer o nome “foto de perfil”, na
condição de que eu me posicionasse de lado; a segunda era cobrir meu olho feio
com algum objeto. Optei pela última opção.
Armei
meu tripé improvisado (suporte para partitura), e comandei a câmera com meu
celular, por meio de um aplicativo. Disparei uma vez. Eu havia me esquecido de
sorrir. Fingi um sorriso e registrei esse momento. Depois, veio a hora de me
modificar um pouco; fingir-me de novo, na edição. Eu havia escolhido um livro
de poesia para ocultar-me, e isso me redimiria. “O poeta é um fingidor”, já
dizia Pessoa.
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