“Sobrevivendo no inferno”, o álbum que nos ensina a vida tal como ela é

Sobrevivendo no Inferno – Wikipédia, a enciclopédia livre

Escutar rap não é de praxe para mim. Não tenho muito convívio com o gênero, e confesso que o ritmo não costuma me atrair. Tampouco uso prestar atenção às letras das canções desse segmento musical. Em quesito de playlist, sou bastante eclético, mas, até recentemente, a única canção de rap que, de vez em quando, eu escutava era o “Rap da felicidade”, em uma interpretação magnânima da Alcione.

Assim foi até que me vi “obrigado” a escutar um álbum inteiro desse gênero. Isso porque, uma vez que tenho a pretensão de prestar o vestibular para ingresso na Unicamp em 2020, devo ler e estudar cuidadosamente as leituras obrigatórias para essa prova, e uma delas é justamente Sobrevivendo no inferno, dos Racionais MC’s. 

Poucos filmes tocaram-me profundamente a alma; livros, menos ainda; álbuns musicais, conto-os em uma só mão. Nada obstante, o mais recente destes foi justamente o álbum de rap que tive que escutar com a mais decisiva atenção nos últimos dias. Sobrevivendo no inferno é “para se escutar de joelhos”, como costuma dizer o professor Pasquale das canções que comenta na CBN. Talvez esse tenha sido justamente o motivo por que Fernando Haddad presenteou o Papa Francisco com o disco, em visita ao Vaticano em 2015.

Sobrevivendo no inferno foi lançado em 1997, mas, se fosse lançado amanhã, seria, talvez, ainda mais atual do que quando o foi à época. Poucas coisas ficam mais atuais à medida que o tempo passa, e Sobrevivendo no inferno é, felizmente, uma delas.

Na capa do disco, para início de descrição, observa-se uma cruz sobre um fundo escuro. A fonte das letras e o jogo de cores, como o vermelho em “Racionais MC’s”, sugere algo tenebroso. Há um versículo bíblico em destaque: “Refrigere minha alma e guia-me pelo caminho da justiça” – um excerto de um salmo.

As letras das músicas são longas, filosóficas, narrativas, críticas, pesadas. Ainda assim, uma estranha leveza ainda pode ser absorvida delas, por meio de uma forma mística e sensitiva. Cada palavra dita e musicada com excelência por vozes fortes tem a capacidade de penetrar a essência do ser. E, com uma boa disposição de escutá-las, adentram quaisquer conceitos e preconceitos humanos.

É com muito merecimento que Sobrevivendo no inferno foi também transformado em livro pela Companhia das Letras, e figurado na 14ª posição dos cem melhores discos da música brasileira pela Rolling Stone em 2007, sendo, ainda, considerado o álbum mais importante do rap brasileiro. Quem escuta pela primeira vez Sobrevivendo no inferno, dos Racionais MC’s, não é mais o mesmo.


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