O calvário do “messias”



Em El Salvador, a pandemia do novo coronavírus está a revelar a face autoritária do jovem presidente Nayib Bukele. Após uma onda de assassinatos que deixou 23 mortos em apenas um dia, o governante concedeu carta branca ao Exército, confinou detentos de gangues rivais na mesma cela e impediu que a luz entrasse nas prisões – com respaldo do povo: Bukele tem cerca de 90% de aprovação popular.

Muitas semelhanças têm entre si os governos brasileiro e salvadorenho. Contudo, há uma diferença crucial no caso sul-americano: aqui, a pandemia tem feito o presidente perder poder. Nosso “profeta” – segundo André Mendonça, o novo ministro da Justiça – e “messias que não faz milagre” – segundo o próprio Bolsonaro – está assistindo a sua coalizão desmoronar.

Falsos profetas, quando surgem, costumam ser bem recebidos em suas pátrias – mas, como Bolsonaro bem lembra, no fim, a verdade impera. E está-se começando a verificar o calvário do “messias de arma na mão”, como canta Mangueira. Já se foi o tempo glorioso do líder; agora, os que eram seus amigos são seus principais inimigos. Bolsonaro colherá, muito em breve, os frutos do que plantou.

Já não mais restam dúvidas acerca dos exames médicos presidenciais. Onde há verdade, não há coisa a se esconder. Em entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre, na última quinta-feira, Bolsonaro afirmou: “Eu, talvez, tenha pegado esse vírus no passado, e nem senti. Aqui em casa, toda a família deu negativo. Talvez, eu tenha sido infectado lá atrás e nem fiquei sabendo. Talvez. E estou com anticorpo”.

Com mais de trinta pedidos de impeachment em suas costas, a cruz de Bolsonaro deve estar bastante difícil de ser suportada. Com efeito, não vejo outra saída que não sejam as quedas, seguidas de crucificação. E é melhor a democracia brasileira se preparar, pois, se eu estiver enganado, pode ser ela a vítima imolada.

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