Quando dinheiro é infeliz

Eu era pequeno. Estava na Feira dos Importados, em Brasília, mais conhecida como Feira do Paraguai. Meus tios Romildo e Cleuza trabalhavam – ainda trabalham – lá, a vender objetos para casa. Um abajur chamou-me a atenção: quando meu dedo tocava-o uma vez, acendia-se uma lâmpada de luz tênue; se eu repetia o ato, a luz intensificava e, se eu o fizesse novamente, o abajur acendia-se por completo. Mais um toque e tudo se apagava.
É
claro que eu não poderia conter meu fascínio por esse objeto que, além de trazer
consigo toda a modernidade do mundo, também era esteticamente bonito. Meus pais
perguntaram-me se eu gostaria de levá-lo a Minas Gerais. Prontamente, respondi
que sim. E meu tio entregou-me o fino abajur guardado em uma caixa de papelão.
Conversa
vai e conversa vem, Romildo interrogou-me: “Quer um ‘dindim’?”. Eu fitei minha
mãe, como se lhe perguntasse com os olhos: “Tenho permissão para aceitar?”. Não
obstante, para minha surpresa, minha genitora pareceu não ter percebido meu
questionamento visual, ao qual retribuiu com um constante sorriso.
“Uai,
quero!”, respondi, como um bom mineirinho. “Espere aí então, que vou buscar”,
disse meu tio. Pensei que, de fato, seria uma grande soma. Se fosse algo
ínfimo, como dois reais, o irmão de minha mãe simplesmente o tiraria do bolso
da bermuda e me o entregaria.
Entretanto,
para minha surpresa, meu tio trouxe-me o que eu conhecia por “chupe-chupe”, “sacolé”
ou “geladinho”. Ou, hoje em dia, até mesmo por “ticolé”. Qual não foi minha
decepção ao ver esse vulgar alimento vindo até minhas mãos! Minha vontade era
de rir, mas guardei esse momento para depois.
Ora,
nesse dia, aprendi uma palavra nova. Na verdade, um significado novo de uma
gíria já conhecida. O Michaelis traz
duas acepções populares para “dindim”: “dinheiro” e “espécie de picolé que vem
dentro de um saquinho plástico”. A última ainda é definida como regionalismo do
Ceará, nas abreviações do dicionário.
Mas,
também, aprendi nesse dia que o dinheiro, se não vem quando esperado, é infeliz
sem sequer existir. Bem, na verdade, eu já sabia disso antes; nunca fui alguém
apegado a dinheiro. Porém, hoje elejo esse como o marco de meu aprendizado
humano e financeiro.
E
para concluir esta crônica, acrescento que estou a ler o livro Gina, de Maria José Dupré, autora de Éramos seis. Gina, a protagonista,
também aprende a mesma lição que vivi na Feira do Paraguai. Todavia, de forma
mais... infeliz. Recomendo a leitura. E, para quem quer poupar “dindim” não
comprando um exemplar, pode pedir-me a obra emprestado, quando eu terminar de
lê-la.
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