Pro-fes-so-res

Lembro-me de quando Séfora, minha professora de português, escreveu “helicóptero” no quadro negro. Eu tinha por volta de onze anos. A aula era de separação silábica. A mestra grafou, em seguida: “He-li-có-p-te-ro”. Entretanto, não aparentou convencida de que o que havia registrado com o giz estaria correto. Hoje, imagino que, possivelmente, a confusão tenha se originado com a lembrança da professora de que, em nossa língua, o acento não recai antes da antepenúltima sílaba. Valendo-me de um neologismo, quero dizer que não há “proproparoxítonas”.
Não
obstante, na hora, o que me veio à mente foi uma frase do livro didático: “No
português, toda sílaba tem, no mínimo, uma vogal”. Nesse raciocínio, coube a
mim discordar de Séfora: “Mas não existem sílabas sem vogais!”. “Quem disse
isso?” – perguntou-me a professora. “Está no livro”, respondi, “Acho que o
certo é ‘he-li-có-pte-ro’”.
Após
consultarmos um dicionário, verificamos que, na verdade, nenhum de nós estava
completamente correto. A separação normatizada é “he-li-cóp-te-ro”. Nesse dia, a
aula foi de aprendizado para os discentes e para a docente. Acredito que são
momentos assim em que a educação atinge seu papel máximo dentro de uma sala:
havendo dúvida, hipótese, discussão e conhecimento novo.
A
separação de palavras em sílabas parece ser algo um tanto inútil para muitas
pessoas; todavia, não a vejo dessa maneira. Se levarmos para o lado mais amplo da
coisa, perceberemos que, como o caso dos polos dos ímãs, os semelhantes se
repelem. “R” e “r” e “s” e “s” são apenas as duplas clássicas. O mesmo ocorre
com vogais: “ba-a-li-ta”, “em-pre-en-der”, “ni-i-lis-mo”, “vo-o”, “u-cu-u-ba”.
O que permanece unido é o diferente.
Talvez
tal regra gramatical e física também possa ser observada em professores, no que
se refere a suas marcas na formação dos alunos. O que fica na memória destes
são as experiências com o distinto, com o raro. Creio que seja este o desafio
de cada docente: proporcionar aprendizagens que possam ser eternizadas pelos
estudantes interessados em saber mais.
Nesse
sentido, deixo aqui meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que contribuíram
para minha trajetória acadêmica. Que, um dia, eu também possa juntar-me a eles como
colega de profissão e lecionar a quem, como minha mente, tem fome de
conhecimento! Esta é minha oração final.
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