Livros para eletroencefalograma

Meu amigo comentou comigo que irá fazer um eletroencefalograma na tarde de hoje. Não sei do que se trata. Sem empecilhos, ele perguntou-me se eu conhecia algum método eficiente para dormir. Informou-me que seria preciso que estivesse entregue ao sono de forma espontânea no exame.
Refleti
um pouco. Recomendei-lhe ler algum livro momentos antes. “Mas contraindico
Agatha Christie e Dan Brown”. Senti-me como se estivesse a prescrever alguma
medicação. “Escolha uma obra que não seja muito emocionante; quanto mais
enfadonha, melhor”.
“Vou
levar um dicionário, então” – brincou; mas, como me senti ofendido com a frase,
despedi-me e fui embora. Ora, se eu levasse um Houaiss comigo para a cama, certamente teria sonhos eróticos.
Mas,
seguindo o passo, enquanto eu caminhava para casa, fui pensando em quais livros
eu levaria a um eletroencefalograma, se nele precisasse dormir. O primeiro que
me veio à mente foi uma recente obra de um pensador contemporâneo sobre redes
sociais e porcos-espinhos, a qual não cito nominalmente por não ser de domínio
público.
Outro
livro que eu levaria com gosto é O
príncipe, de Maquiavel. Caso não me fosse permitido lê-lo durante o exame,
eu pediria para, então, poder ao menos avistar sua capa, ao longe. Acredito que
já seria suficiente para mergulhar-me em profundo sonho.
Eu
ainda poderia levar comigo um livro de física que tenho, se não houvesse
problema em se ter pesadelos. Ou, quem sabe, uma biografia mal escrita de
alguém desinteressante. E, agora que estou a escrever, imagino que as últimas
obras de certa saga americana sobre dois tigres místicos também dariam conta do
recado.
Enfim,
são numerosos os livros que me serviriam de sonífero. Não obstante, antes de
encerrar a crônica, faço nota ao leitor: nem toda obra enfadonha é ruim.
Reconheço que O príncipe é, de fato,
uma maravilha. Mas uma maravilha que causa sono. E você, leitor: qual livro
levaria a um eletroencefalograma?
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