Modo de preparo


 
Hoje, enquanto eu andava pela rua, ocorreu-me a ideia de escrever uma receita de namoro. Não me refiro àqueles textos podres e pobres de gurus do amor, os quais mais se valem da função apelativa da linguagem do que da referencial. Veio-me à mente o objetivo de lavrar quase um algoritmo; algo que, se seguido à risca, desenrola um processo o qual leva ao namoro.

Há alguns meses, li uma versão em espanhol de um livro que, em português, recebe o título O universo em um átomo, escrito pelo dalai-lama atual. Por meio de tal obra, pude constatar que Tenzin Gyatso é, em certa dose, fã do empirismo. A versão on-line do dicionário Michaelis traz, como significado para esse termo: “Sistema filosófico que nega a existência de axiomas como princípios de conhecimento, logicamente independentes da experiência, considerando apenas o que pode ser captado do mundo externo pela experiência sensorial, ou do mundo interior, pela introspecção”.

Não sou muito admirador do empirismo, como o é o líder espiritual tibetano; contudo, elegi a experiência o principal motor para a produção de minha quase científica receita. E, é claro, baseei-me primordialmente em minhas próprias vivências. Dito isso, creio que posso dar início ao que os palestrantes antimotivacionais, ou empreendedores, gostam de chamar de “brainstorm”, palavra que, antes de grafá-la, foi consultada por mim na internet.

Ora, meu primeiro postulado é este: todo nascimento de uma paixão é oriundo de pelo menos uma acepção do vocábulo “gênero”, seguindo as definições constadas na versão on-line do dicionário Aulete. Informo a meus amigos lusitanos que considerarei, aqui, “género” e “gênero” a mesma coisa. Assim sendo, defendo que as paixões podem nascer de gêneros textuais, gêneros sexuais ou puramente do “género” humano.

Sem empecilhos, meu segundo postulado é este: os amores mais sublimes são aqueles que incluem, de forma harmoniosa, diferentes gêneros. Nessa linha de raciocínio, deve-se ofertar algum texto à pessoa que se ama. Um texto decente, caprichado. Pode ser uma carta de amor, mesmo que ridícula, como diria Fernando Pessoa; pode ser um poema, uma canção, uma crônica metalinguística. É mais importante que seja autoral do que sincero.

Passados alguns dias, caso haja correspondência (tanto a troca de cartas quanto o ato ou efeito de corresponder-se são válidos), deve ser ofertado um presente físico, que deve, preferencialmente, ser acompanhado de outro texto. Recomendo piamente algum disco da Nana Caymmi. Este é sempre um bom regalo. Mesmo que nenhum dos dois cúmplices da paixão goste da cantora. Eu gosto muito, e, como sou eu o autor da receita, é-me permitido aqui escrever sugestões pessoais.

Feito isso... Faz-se necessário escrever um pequeno relatório, e enviá-lo a meu endereço de e-mail. Não faço preferência entre o pessoal e o profissional; pode ser qualquer um. Ora, não deve ser pensado que invadirei a privacidade de alguém; eu jamais faria isso! Apenas... Gostaria de dar continuidade a meu trabalho. E, como nunca passei com êxito da fase do disco musical, faz-me necessário coletar dados de outras experiências...

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