Divino fantástico



Estava eu a desperdiçar tempo em redes sociais quando me deparei com a frase “Deus é fantástico”. Pensei, a princípio, tratar-se de algum ateísta praticante a criticar um cristão de menor prática. Ledo engano; com um pouco de atenção, percebi que as três palavras vieram de um ex-seminarista. Ora, fato é que ele abandonou o convento há algum tempo, conheço-o; não obstante, é de minha fé que ele ainda conserva a sua.

Ou estaria eu duplamente enganado? Com um pouco de curiosidade, resolvi checar suas últimas publicações. Não; eu estava iludido em dose única. Concluí que “fantástico”, palavra que o dicionário Aurélio traz como primeira definição “Só existente na fantasia ou imaginação”, e, como quarta, “Falso, simulado, inventado, fictício”, estava sendo usada como elogio, algo próximo de “grandioso”. O crente não se fez descrente, ou sequer “crente” em seu sentido lamentável de brasileirismo.

Minha curiosidade aumentou e tive ímpetos de digitar “Nossa Senhora das Letras” em um motor de pesquisas. Todavia, parece-me que tal título ainda não recaiu sobre a mãe do rei dos judeus. Em verdade, o que veio à minha tela foi a letra da música “Nossa Senhora”, composta pelo rei da música latina. Mas, se Deus é onisciente e onipotente, Ele é também maior que todos os vales tenebrosos que separam as terras dos significantes das terras dos significados.

E nós, escritores e leitores, subordinados às variações das constelações de signos linguísticos – não dos astrológicos, genuinamente fantásticos –, temos nossos humores oscilados com o passar dos dias. Não obstante, continuemos caminhando à Canaã das línguas, id est, o esperanto. Estudemos? Que os santos das causas impossíveis compadeçam-se de nós.

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